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Fama de Alfama: ritmos brasileiros e portugueses se misturam em casa de fado lisboeta
Da esquerda para a direita, o português Mário Pacheco e os brasileiros João Pita, Nani Medeiros e Fernando Dalcin. Foto: Rita Chantre

Fama de Alfama: ritmos brasileiros e portugueses se misturam em casa de fado lisboeta

Local abriu as portas para o trio de brasileiros Nani Medeiros (voz), João Pita (violão de sete cordas) e Fernando Dalcin (bandolim).

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

Português apaixonado pela cultura brasileira, João Cardim se orgulha do negócio que construiu na Rua do Terreiro do Trigo, em Lisboa, há cerca de sete anos. "Somos a casa de fado mais aberta ao mundo que existe", diz o empresário, fazendo referência ao seu restaurante Fama de Alfama, visitado pelo DN Brasil.

Com um conceito inovador e pouco comum nas mais diferentes casas de fado da cidade, o Fama de Alfama é um restaurante que mistura gêneros musicais de diferentes países ao mais tradicional português. A ideia de proporcionar esse encontro de culturas no fado sempre pairou na cabeça de João, que viveu boa parte da vida em Alfama.

A proposta se concretizou quando Joana Amendoeira, consagrada fadista, se tornou curadora na casa. "A programação é virada para o mundo porque nós gostamos de incluir artistas que residem em Lisboa e que tocam também outros gêneros musicais. Além das noites de sexta-feira, com o fado e choro, temos outras noites especiais com fado e morna, com fado e tango. Queremos que seja sempre diferente, não apenas o fado", ressalta Joana Amendoeira.

A fadista Joana Amendoeira em atuação na Fama d'Alfama. Foto: Rita Chantre

Pouco antes de Joana se tornar a curadora da casa, a brasileira Nani Medeiros já dava seus primeiros passos na Fama d'Alfama. Gaúcha de Porto Alegre, mas com família portuguesa, Nani ainda no Brasil descobriu sua paixão por fado. Em 2019, junto a seu companheiro e também parceiro de banda, João Pita, que assim como ela tinha raízes portugueses e já interpretava o gênero luso, Nani decidiu se mudar para Portugal.

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Nani Medeiros está na casa desde 2019. Foto: Rita Chantre

Antes cantora em rodas de choro, Nani teve seu primeiro contato com o fado em 2016 e, em 2019, quando ela e João tinham acabado de chegar em Lisboa, foi a Fama d'Alfama que abriu as portas para ela. "Confesso que eu não achava que eu aqui fosse ser chamada pelos portugueses para cantar fado, por ser uma coisa mais tradicional, talvez conservadora, não nasci aqui. Mas as coisas foram acontecendo muito naturalmente, tiveram interesse na Fama e segui fazendo também meus shows de choro em outros lugares", conta Nani.

O trio de brasileiros, Nani Medeiros (voz), João Pita (violão de sete cordas) e Fernando Dalcin (bandolim), trocam de Nelson Cavaquinho para Amália Rodrigues como um cidadão normal troca de roupa. A habilidade de Nani, que estudou fado no Brasil, assim como seu companheiro de vida e de banda, Pita, impressiona até os nomes mais respeitados das casas portuguesas, como é o caso de Mário Pacheco, que acompanha a banda com uma guitarra portuguesa. "Uau", exclama Pacheco quando Nani, em questão de instantes, sai do choro e se transforma em uma fadista.

Mário Pacheco e sua guitarra portuguesa. Foto: Rita Chantre

O empresário dono do negócio é todo elogios para os brasileiros da casa. "Eles são tão bons que conseguem fazer essa ponte, essa junção, conseguem ir aos dois lados do oceano, por assim dizer. O Dalcin consegue acompanhar o fado, é um bandolinista, o Pita consegue acompanhar o fado, a Nani é fabulosa... eles fazem uma coisa que eu sempre sonhei. Passam de fado para choro, para samba canção, como se fosse uma coisa natural. É fantástico", destaca.

Todas as sextas-feiras - tradição que agora terá uma pausa com a ida de Nani e Pita para temporada no Brasil - a Fama d'Alfama recebe a banda composta pelos dois e Dalcin, além dos portugueses Joana Amendoeira e Mário Pacheco. Antes da apresentação, João Cardim anuncia ao público que a performance é dividida em quatro momentos, reforçando que nestas horas o silêncio absoluto é imprescindível: em uma casa de fado, o canto, a performance e a harmonia são sagrados como em poucos lugares do mundo.

Fado e culinária

Nas pausas entre performances, a clientela pode degustar de alguns dos principais pratos servidos na Fama d'Alfama. Além da tábua de queijos servida com geleia de abóbora (€20), aperitivo de assinatura de Cardim (um connoisseur de queijos), o prato que o português recomenda, assim como nós, é o Tempurá de Polvo com purê de maçã (€28).

Nos vinhos, a fala do dono diz tudo: "Bebam muito, nossa adega está cheia", anuncia o empreendedor à clientela, que assim como em grande parte dos restaurantes da região é composta maioritariamente por turistas - embora Cardim ressalte que muitos portugueses e brasileiros em Portugal também frequentem a Fama.

João Cardim, responsável pelo Fama d'Alfama. Foto: Rita Chantre

Hoje consolidados no cenário da música em Portugal, Nani, Pita e Dalcin viram na Fama d'Alfama uma possibilidade de estreitar relações com músicos portugueses e o o gênero mais famoso da terrinha. Habituados a tocar ao lado de grandes nomes do fado no restaurante, o trio tem contribuído para fazer história ao trazer também os ritmos brasileiros para um dos bairros mais icônicos de Lisboa.

"É algo que não se faz em lado nenhum. Os mais tradicionalistas podem falar que não fazemos fado, mas estão errados, os melhores fadistas estão aqui. Mas nós trazemos também os melhores músicos de outras partes do mundo", ressalta João Cardim após o pianista Ricardo Dias aparecer de surpresa e acompanhar Joana Amedoeira em um fado na terceira parte da apresentação. Na quarta parte, hora de voltar a trazer banda completa, com o melhor dos dois países, ou como João Cardim sintetiza na apresentação do show: "Temos um passado em comum com o Brasil e esperamos que um futuro também."

A banda completa acompanhada de João Cardim. Foto: Rita Chantre

Nota: O DN Brasil jantou no Fama de Alfama a convite do restaurante.

nuno.tibirica@dn.pt

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