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Ex-empregada em Portugal, brasileira vira escritora e lança livro que valoriza conterrâneas no país
Capa do livro de Cláudia Canto e Lau Nascimento. Foto: Divulgação.

Ex-empregada em Portugal, brasileira vira escritora e lança livro que valoriza conterrâneas no país

"Usei tudo aquilo que eu estava vivendo pra desabafar em forma de literatura", conta Cláudia Canto em entrevista ao DN Brasil.

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por DN Brasil

Texto: Caroline Ribeiro

Era o início dos anos 2000 quando Cláudia Canto saiu de uma área de periferia da zona leste de São Paulo com uma mochila, 500 euros, e voou para Portugal. Técnica de enfermagem que sempre gostou muito de ler, a paulistana achava que teria a oportunidade de desenvolver mais o lado artístico em Lisboa. "Na terceira semana, o dinheiro acabou", conta ao DN Brasil. Foi aí que começou a história da atual escritora, que vai lançar o seu 25º livro no mês de outubro. Sem emprego, sem contatos, mas com determinação, Cláudia conseguiu trabalho como doméstica de uma família "de brancos da África do Sul".

"Eu caí no século XVIII. Ela [a patroa] olhava pra minha cara e falava: 'com você que bom eu posso sair às ruas, porque você não é tão negra'. Eu ficava praticamente fechada mesmo, porque eu não podia nem sair pra tomar um café. Cheguei ao cúmulo de pedir pra uma das filhas pra eu poder fazer banho de sol lá na cobertura. Era um regime interno, eu tinha folga, no meu dia de folga, mas a semana inteira era ali trancada", relembra.

Durante os momentos livres, Cláudia escrevia. De frase em frase, acabou com um livro completo. A inspiração e a força vieram de outras mulheres negras brasileiras. "Usei tudo aquilo que eu estava vivendo pra desabafar em forma de literatura. Pensei em Maria Carolina de Jesus, em o Diário da Favelada, todas elas que tiveram uma vida também assim escreveram, então eu vou escrever também. E aí na terceira semana eu começo a escrever no meu quartinho", conta.

Assim nasceu Morte às Vassouras. O título foi uma forma de brincar com o que passou. "Eu tinha uma vassoura que era a minha amiga na casa, então quando a patroa aparecia eu pegava a vassoura, quando ela sumia eu pegava a caneta. Trocava a vassoura pela caneta 24 horas do dia", diz.

Cláudia ficou um ano no emprego. Decidida a mudar de vida, voltou ao Brasil. Com o texto em mãos e sem conseguir uma editora que aceitasse o manuscrito, deu um jeito de publicar sozinha, criando uma editora com o próprio nome. "Eu estava trabalhando no Data Folha como pesquisadora. O que eu tinha? Eu tinha o conhecimento de rua, facilidade de conversar com o povo, que adquiri fazendo pesquisa de banco. Então, se eu tinha a capacidade de vender um banco, eu tinha condições de vender o meu livro, o meu trabalho", destaca.

Cláudia criou uma personagem para apresentar seu livro. Uma assessora de imprensa fictícia, chamada Estela, que ligava para os meios de comunicação locais das cidades por onde passava em viagens de trabalho como pesquisadora e dizia que a "renomada escritora Cláudia Canto estava na cidade para uma palestra". De rua em rua, de pesquisa em pesquisa e com Estela "ajudando", a profissão engrenou.

Hoje, Cláudia tem 24 livros publicados. Para o 25º, encontrou uma parceira na caminhada, a educadora física Lau Nascimento. As duas assinam a coletânea Entrelinhas - Histórias de Mulheres Brasileiras em Portugal, que será lançado no dia 19 de outubro na Casa do Brasil de Lisboa. Foi Lau quem operacionalizou os trabalhos no país. "Temos 17 meninas participando da coletânea. Foi muito interessante, porque eu ouvi dezenas de histórias. Cada telefonema que eu recebi, elas contavam a história. Então eu tive realmente esse privilégio de ouvir essas mulheres", conta Lau ao DN Brasil.

A parceria vai longe. O livro é apenas o primeiro da coletânea, que quer expandir para histórias de brasileiras - e brasileiros - em outros países, como França, Espanha e China. "O nosso objetivo é eternizar nas páginas de um livro essas histórias, que merecem ser contadas".

O lançamento do livro vai contar com uma roda de conversa com as autoras e é aberto ao público.

caroline.ribeiro@dnbrasil.pt

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