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Mercado de trabalho: estereótipo sexual ainda atrapalha brasileiras, aponta especialista
Camila Souza se dedica à recolocação de mulheres imigrantes no mercado europeu. Foto: arquivo pessoal.

Mercado de trabalho: estereótipo sexual ainda atrapalha brasileiras, aponta especialista

Mulheres imigrantes são quem mais tem dificuldade em encontrar emprego, mesmo com mais qualificações. Estigma sexual agrava situação das brasileiras.

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por DN Brasil

Texto: Caroline Ribeiro

Camila Souza vive em Portugal há oito anos. Como muitos imigrantes, se regularizou no país através de manifestação de interesse. Durante o tempo em que ainda não exercia sua atividade profissional, como gestora de Recursos Humanos, trabalhou como atendente em uma sorveteria, depois em um minimercado de bairro, ficou desempregada na pandemia e começou a fazer e vender pães de queijo “para me ajudar a viver”, conta ao DN Brasil.

Após esse período difícil, Camila se estruturou para buscar a recolocação profissional em sua área de trabalho. Foi aí que se deparou com uma realidade que “ainda” existe.

“Na minha experiência enquanto imigrante brasileira em Portugal, que tem um recorte específico, percebi que tinha o agravante desse estereótipo da mulher brasileira, que ainda é o sexual. Está atrelado à questão da visão norte-global, sul-global, de questionar e não valorizar a qualificação dessas mulheres. Fora todo o machismo”, afirma a profissional.

A dificuldade de mulheres - em geral- de conseguir entrar ou se recolocar no mercado de trabalho, “quando saem por algum motivo”, explica Camila, é, hoje, consenso internacional. “São as mulheres que têm os contratos mais precarizados, que são as primeiras a serem demitidas. Na pandemia, a maior quantidade de postos de trabalho extintos foram os mais ocupados por mulheres. Também são as mulheres que têm mais dificuldade para retornar ao mercado depois que saem, seja pela maternidade ou seja pelo desemprego, ou por uma mudança de país”, afirma a profissional.

Atualmente, Camila Souza trabalha exclusivamente com recolocação profissional de mulheres imigrantes no mercado em Portugal e outros países europeus. Uma decisão tomada “por ser feminista”, mas também por ter sentido na pele as dificuldades. A profissional ressalta que tudo acontece “apesar de, majoritariamente, serem as mulheres as que estudam mais, se qualificarem mais”.

Associações confirmam

Ao DN Brasil, a associação Diásporas, que tem sede em Cascais e presta apoio a imigrantes em diversos setores, confirma o cenário. “A partir dos atendimentos que fazemos, identificamos esse perfil. As mulheres são as que mais têm dificuldade em se inserir no mercado português, mesmo sendo mulheres com faculdade, algumas com mestrado, com doutorado”, diz Elisangela Rocha, presidente da direção da entidade.

O público atendido pela associação é formado, maioritariamente, por brasileiros e cidadãos dos países africanos que também falam a língua portuguesa (PALOP). Segundo Elisangela, seja do Brasil ou de algum PALOP, são as mulheres que engrossam a fila do desemprego em Portugal.

“Na semana passada atendi uma brasileira que era educadora no Brasil, especialista em educação especial, e que não tem conseguido nem trabalho de limpeza aqui”, conta a diretora.

Nestes casos, um dos agravantes é a burocracia. “Tem toda a dificuldade de reconhecimento das habilitações. É um processo caro, demorado, burocrático e não é garantido. São muitas que entram com processos e no final não conseguem as validações dos diplomas, em várias áreas. É com mulheres imigrantes no geral, mas, como as brasileiras vêm com uma escolaridade muito maior, acaba acontecendo mais com elas”, afirma Elisangela Rocha.

Uma das atividades da Diáspores tem sido realizar workshops e outros projetos focados em apoiar especificamente as mulheres migrantes na busca de emprego. “Aprender a fazer o currículo, onde procurar vagas, quais as diferenças entre Brasil e Portugal”, são temas abordados, diz a diretora. A associação aguarda, neste momento, resposta de financiamento para a realização de jornadas de reinserção laboral para mulheres.

Dica

Camila Souza diz que, em um primeiro momento, é bom avaliar a utilidade de agências de recrutamento. “Em todas com as quais trabalhei teve barreiras quanto à contratação de imigrantes”. O motivo, explica, é a padronização do modo de trabalho. “Pode ser um excelente currículo, mas se o cliente, como eu já ouvi, disse ‘não queremos estrangeiros’ não adianta, vai ter que descartar”.

Por outro lado, destaca que “pode ser positivo na medida em que, se a mulher está direcionada para uma área específica, ela desperta o interesse. Do mesmo jeito que essa agência tem um contrato com uma empresa que não está aberta a imigrante, tem com outra que está”, finaliza.

Brasileiras prometem reforçar debate no parlamento

Na próxima quarta-feira, dia 25, o Parlamento discute o aumento do tempo das licenças de maternidade e paternidade em Portugal. Existem cinco propostas previstas na agenda para o debate: uma iniciativa de cidadãos e quatro de partidos políticos.

Em grupos nas redes socias, aos quais o DN Brasil teve acesso, multiplicam-se as publicações e compartilhamentos de brasileiras em apoio ao chamado para que as mulheres estejam presentes nas galerias da Assembleia da República, com “cartazes legíveis”, para que “os deputados percebam o quanto o alargamento da licença parental inicial é importante para as famílias e seus bebés”, diz uma das publicações originais convocando para o movimento.

O tema torna-se cada vez mais relevante no contexto migratório no país, já que, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), mulheres imigrantes reforçam cada vez mais a taxa de natalidade em Portugal, ajudando, inclusive, a diminuir o saldo populacional negativo. Para a gestora Camila Souza, o peso das responsabilidades parentais é um outro fator que diminui as chances de recolocação profissional das migrantes. “No recorte de mulher imigrante, a gente está falando de filhos. Ela precisa arrumar um trabalho e fazer toda a gestão da casa. Não é qualquer horário de trabalho que dá, não é qualquer localidade que dá para conciliar com as outras obrigações dela, de cuidado”, explica.

caroline.ribeiro@dn.pt

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