Escritor brasileiro Victor Vidal recebe maior prêmio literário de Portugal para romances inéditos
"Não há pássaros aqui" venceu com unanimidade entre o juri do Prêmio Leya.
Texto: Caroline Ribeiro
O escritor carioca Victor Vidal recebeu, nesta quarta-feira (3), o Prêmio Leya, considerado a maior distinção literária para romances inéditos em língua portuguesa. A cerimônia de premiação foi realizada na residência oficial do embaixador do Brasil em Lisboa.
Victor tem 32 anos e venceu e edição de 2023 do prêmio. "Não há pássaros aqui", agora publicado pela editora Leya, torna-se a obra de estreia do autor, que sempre teve na escrita um refúgio para as dificuldades da infância.
"O papel e a caneta se mostraram aliados contra o bullying, a solidão, pensamentos de morte. Percebi que, por meio da palavra escrita, era possível criar um mundo totalmente diferente daquele em que eu vivia. A palavra escrita me ajudou a sonhar. Cresci numa região pobre do Rio de Janeiro, em que os sonhos eram tratados como delírio", disse Victor durante seu discurso.
O livro conta a história de Ana, uma jovem que teve um relacionamento conturbado com a mãe. Depois de anos de distância, a protagonista recebe um telefonema que informa sobre o desaparecimento da mãe. "O que eu queria ao desenvolver essa história era falar de um certo mistério que permeia a vida, de coisas que acontecem conosco que não sabemos explicar. Parte da dor que a personagem sente vem do fato de ela tentar buscar, o tempo todo, uma coerência no entorno dela. Queria desenvolver uma história que tivesse um mistério. É uma personagem que esconde um segredo e não revela pra ninguém, só para os leitores".
O enredo tem contornos de violência, à semelhança de experiências do próprio autor. "Tive uma infância turbulenta, marcada por poucas demonstrações de afeto e abandono. Minha mãe viveu relação abusiva com meu pai. O ambiente em minha casa era hostil e perigoso. Quando meu pai finalmente nos abandonou senti alívio e tristeza. Até hoje não tenho notícias suas".
Para marcar a entrega do prêmio, Victor Vidal participou de uma conversa com o também escritor Stênio Gardel, cearense, autor de "A palavra que resta". A versão em língua inglesa do livro venceu o prestigiado National Book Awards de 2023. Os dois autores cumprem agenda em Portugal até o próximo dia 8, com passagens em eventos em Sertã, Aveiro e Barcelos.
Durante a cerimônia, o grupo Leya apresentou a edição portuguesa do livro de Stênio Gardel, publicado pela editora Dom Quixote, que passa a estar disponível em todo o país. "A palavra que resta" conta a história de Raimundo, que não sabe ler e guarda, por décadas, uma carta escrita pelo homem por quem se apaixonou. "Os atos de homofobia e de transfobia que estão lá tem o seu peso dentro da história, não estão lá de forma gratuita. Os leitores conseguem enxergar a necessária busca pela não-violência, pelo respeito à diversidade".
Victor Vidal é o quarto autor brasileiro a vencer o Prêmio Leya. Criado em 2008, a estreia foi com a premiação de Murilo Carvalho com "O rastro do jaguar". Em 2018, Itamar Vieira Jr levou com "Torto arado". Em 2022, Celso Costa com "A arte de driblar destinos".
Pedro Sobral, administrador do grupo Leya ressaltou o mérito de Victor Vidal, vencedor por unanimidade, com uma escrita "criativa" e diferente. "Que este prêmio continue inspirando escritores pelo mundo lusófono, como uma plataforma de descoberta e celebração de talentos literários", disse o gestor.
As inscrições para a edição deste ano já estão abertas.
caroline.ribeiro@dn.pt