Embaixada do Brasil reabre após revitalização do prédio histórico
O DN Brasil visitou o local antes da reabertura, após reforma durante quase dois anos. Atendimento volta a ser realizado na estrutura, inaugurada em 1988 em cerimônia registrada pelo DN.
Texto: Amanda Lima
A sede da Embaixada do Brasil em Lisboa reabre ao público nesta segunda-feira (16), após uma reforma de quase dois anos. O DN Brasil visitou o local com exclusividade antes da reabertura aos cidadãos e viu de perto como o prédio histórico ficou após o trabalho. “Conseguimos restaurar e modernizar o edifício respeitando sua história e garantindo funcionalidade e segurança para as operações da Chancelaria. O trabalho realizado reflete o compromisso com a preservação do patrimônio cultural e a eficiência administrativa”, destaca ao DN Brasil Raimundo Carreiro, embaixador do Brasil em Lisboa.
O prédio, datado de 1750, passou por uma revitalização completa. “A obra logrou preservar a integridade e o caráter histórico dos edifícios de meados do século XVIII, ao mesmo tempo em que incorporou modernizações essenciais para o funcionamento da Chancelaria”, explica Carreiro.
De acordo com o embaixador, a obra foi desafiadora devido aos métodos construtivos da época. As paredes foram construídas com blocos de pedra e os tetos de “tabique”, um tipo de estrutura frágil, além da restauração do patrimônio artístico. “A restauração de telas, azulejos e estátuas foi particularmente desafiadora em razão da escassez de registros ou de documentação histórica. Esse cenário exigiu intensa pesquisa e aplicação de técnicas especializadas para garantir que o trabalho respeitasse o valor artístico e histórico das peças e das obras existentes na Chancelaria”, detalha. Outro desafio foi a falta de plantas de referência do prédio. “Sem informações minuciosas sobre as passagens de tubos, redes elétricas ou divisões dos quadros foi necessário realizar estudos extensivos para mapear essas instalações de forma precisa e segura”, pontua.
Segundo o engenheiro e assistente técnico Rafael Oliveira, que prestou o concurso da Embaixada para acompanhar toda a obra, o primeiro aspecto levado em conta foi a estabilidade do prédio, isto é, corrigir fissuras e garantir a segurança de toda a estrutura. Aliás, esse foi um dos motivos de a remodelação ter sido realizada, porque nunca havia sido feita uma reforma nestes moldes nos últimos 35 anos.
A embaixada foi inaugurada no dia 22 de outubro 1988 e a cerimônia foi registrada pelo Diário de Notícias, na edição do dia seguinte. O evento teve a presença do então presidente brasileiro José Sarney e do presidente português Mário Soares. “Portugal tem muito a aprender com o Brasil”, disse o chefe do Estado português, acrescentando que a nova embaixada “virá certamente a ser animada pela presença da cultura brasileira, que tanto pode influenciar a cultura portuguesa”.
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Passados quase 40 anos desde a célebre inauguração, também foi levada em conta a modernização e revitalização da estrutura, com pintura interna e externa - mantida a cor rosa, tradicional de outros prédios de época, como o próprio Palácio de Belém - a restauração das diversas obras de arte, como os quadros, esculturas, fontes, lustres, os tradicionais azulejos azuis e brancos e o tratamento nas portas e outros pontos feitos de madeira. Uma das obras, que cobre todo o teto de uma das salas mais nobres do edifício, teve que ser retirada para a restauração. Outra pintura, na parede ao lado da escadaria principal, já estava tão desgastada que não se conseguia ver os detalhes. Agora, com o restauro, é possível apreciar o grande quadro, um dos maiores do prédio. Outra área que exigiu um minucioso trabalho de restauração foi a capela, adornada por azulejos nas paredes e um altar original, com detalhes barrocos e uma grande pintura no teto.
Depois, foi dada atenção à rede elétrica, totalmente trocada, com instalação de iluminação eficiente e moderna, assim como a parte hidráulica da estrutura. Por último, a rede de Internet também foi modernizada “com o que há de melhor no mercado”, detalha Rafael.
Durante os 18 meses de obra, cerca de 100 trabalhadores atuaram na reforma. Pintores, restauradores, carpinteiros, encanadores, eletricistas, engenheiros, entre outros - muitos deles brasileiros e outros imigrantes. Um deles foi o eletricista Robson Luiz, que estava trabalhando na fiação quando o DN Brasil visitou a embaixada. “Me sinto muito feliz em fazer parte deste trabalho importante e ajudar a representar os brasileiros aqui”, destaca o imigrante, que nasceu em Salvador e mora em Lisboa há pouco mais de um ano.
Sandra Baptista, diretora da obra, relata que o trabalho foi desafiante pela idade do prédio. “Não foi uma obra tradicional por estarmos a falar de um prédio muito antigo, datado do século XVII, mas conseguimos superar todos os desafios e o resultado final enche a nós todos de orgulho, especialmente pela recuperação do brio do edifício”, destaca a profissional. O trabalho até reservou algumas surpresas: detalhes de pintura apagados pelo tempo e até a descoberta de um poço com 24 metros por 6 metros de diâmetro, com uma construção em cima.
Atendimento à comunidade
A obra foi terminada recentemente, com o trabalho de limpeza para a mudança. Nos últimos 18 meses, a embaixada funcionou temporariamente no andar de um prédio no Centro de Lisboa.
Segundo o embaixador, a reforma e reabertura da chancelaria se traduz em melhorias no atendimento à comunidade. “A reforma permitirá o atendimento em melhores condições e em maior segurança dos membros da nossa comunidade que mantenham interlocução com os diversos setores da Embaixada”, ressalta. Raimundo Carreiro também complementa que o espaço ficou melhor para a realização de eventos. “Teremos ainda instalações mais propícias para a realização de eventos de interesse de nossa comunidade, como seminários, palestras, encontros e atividades culturais”, adianta Carreiro. De acordo com o Itamaraty, o valor total da obra foi de aproximadamente 1,6 milhão de euros, com o trabalho realizado através de licitação pública.
A embaixada do Brasil em Lisboa fica na Quinta das Flores, a poucos minutos a pé da estação de Sete Rios, o que possibilidade chegar ao prédio por transportes públicos. O atendimento ao público é das 9.30 às 13.00 horas e das 15.00 às 17.00 horas.
Confira a galeria de fotos, tiradas pelo fotojornalista Paulo Alexandrino
Este texto está publicado na edição impressa do Diário de Notícias desta segunda-feira (16).