Eleições na Universidade de Coimbra: candidatos querem reduzir valor cobrado a alunos estrangeiros
Brasileiros pagam 7 mil euros anuais para estudar na UC, cerca de 43 mil reais, enquanto estudantes portugueses desembolsam 700 euros em propinas por ano. Universidade é considerada a "mais brasileira" fora do Brasil.
Texto: Caroline Ribeiro. Entrevistas: Rui Miguel Godinho
Alunos da Universidade de Coimbra votam, nesta quinta-feira (14), para eleger a nova formação da Associação Acadêmica de Coimbra (AAC), entidade estudantil mais antiga de Portugal, que completa seu 137º aniversário em 2024. Na corrida pela presidência da AAC estão três candidatos, que têm em comum uma mesma proposta: lutar pela redução dos valores das propinas, as mensalidades, cobradas aos brasileiros e outros estudantes internacionais.
Em entrevista ao DN, os candidatos reforçam a urgência de seguir com as discussões. “Queremos continuar a lutar por um ensino gratuito para todos os estudantes e queremos que os estudantes internacionais possam pagar o mesmo que os nacionais. Há que continuar essa reivindicação de um ensino gratuito, acessível a todos", afirma Carlos Magalhães, estudante de engenharia civil e candidato da lista que representa a atual presidência.
A mesma opinião tem Pedro Valério, aluno da licenciatura em administração público-privada. "Os estudantes internacionais têm uma grande assimetria em relação aos nacionais, com a propina a estar fixada nos 7 mil euros, enquanto para os nacionais está nos 700. É uma diferença absurda”, critica. Convertendo: alunos brasileiros pagam cerca de 43 mil reais por ano na instituição.
Este tema é, “sem dúvida alguma”, um dos grande “entraves” no acesso ao Ensino Superior, diz Gonçalo Lopes. “É certo que tem vindo a descer e que já não representa o custo que representava há uns anos, mas continua a haver uma discrepância. Portanto, é preciso um combate muito acérrimo em relação à propina, e não teremos absolutamente problema nenhum em sair à rua em relação a este tema. Inclusive a própria Associação Académica de Coimbra está vinculada estatutariamente a defender um ensino superior gratuito e sem o sistema de propinas como um modelo de financiamento do ensino superior”, aponta.
Universidade "mais brasileira" fora do Brasil
A UC tem, atualmente, cerca de 2.500 estudantes brasileiros em todos os níveis de ensino, principalmente nos cursos de doutorado. "Para uma universidade com 25 mil estudantes, somos proporcionalmente a maior universidade brasileira fora do Brasil", disse o o vice-reitor para as Relações Externas e Alumni da instituição, professor doutor João Nuno Calvão da Silva, em entrevista ao DN Brasil.
A história dos brasileiros com a universidade é antiga. A UC foi pioneira em Portugal ao adotar a nota do Enem como critério de admissão, medida que completa 10 anos em 2024.
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Sobre a discrepância no valor das propinas, o representante da instituição justificou. "Não seria, seguramente, aquilo que eu, como vice-reitor, desejaria. Mas há outras preocupações de ordem econômica a pensar: pagamento de professores, de investigadores, dos funcionários e manutenção da casa. Infelizmente é um conjunto de preocupações que as universidades portuguesas não podem deixar de atender e que justifica este estado das coisas", disse, em referência ao Estatuto do Estudante Internacional, medida que autoriza as instituições de ensino superior do país a cobrarem valores mais altos dos estrangeiros para suprir a falta de financiamentos.
O caminho para a redução das propinas da UC está sendo pavimentado por iniciativas em outras instituições. Conforme o DN Brasil avançou, a Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL) vai baixar pela metade o valor cobrado aos brasileiros e demais estudantes naturais da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). A medida entra em vigor no próximo ano letivo, que começará em setembro de 2025.
Já a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, se tornou a primeira instituição do ensino superior em Portugal a igualar o valor das mensalidades entre os alunos da CPLP e os nacionais, aplicando a equiparação no ano letivo que começou no último mês de setembro.
caroline.ribeiro@dn.pt