DJ brasileiro anima festas de verão no interior de Portugal e relata curiosidades
“A experiência tem sido inesquecível e muito peculiar. Estou realmente muito contente de ter conhecido as terrinhas que visitei, as culturas e peculiaridades de cada uma", conta Lucas Freitas ao DN Brasil.
Texto: Amanda Lima
Verão é sinônimo de férias e festas em Portugal, dos mais diferentes tipos. Ocorrem festivais de verão que atraem multidões, em especial os jovens, mas, outro tipo de celebração é típica do país, mais precisamente do interior: as festas nas aldeias. A estação mais quente do ano é um convite para sair à rua, lotar praças, reunir-se com amigos e familiares que estão de férias. Quem tem uma visão privilegiada - do alto do palco - é o DJ brasileiro Lucas Freitas, que tem percorrido as aldeias do norte do país para animar as pitorescas festas.
“A experiência tem sido inesquecível e muito peculiar. Estou realmente muito contente de ter conhecido as terrinhas que visitei, as culturas e peculiaridades de cada uma, e de perceber que, mesmo sendo um brasileiro, consegui oferecer um serviço que agradou muito o público, ao ponto de pedirem que eu volte nas próximas”, relata ao DN Brasil. Morando em Portugal desde 2020, o jovem de 28 anos está com a agenda repleta nesta temporada, numa experiência inédita na carreira.
“É o primeiro verão em que eu atuo com tanta frequência e intensidade nesses eventos. Em verões passados eu já havia tocado em pequenas festas pontuais, que levam o mesmo estilo de música e playlist, mas neste verão estou com uma agenda muito, muito repleta de atuação em eventos deste tipo”, destaca. Miranda do Douro, Várzea da Serra, na região de Tarouca, em Viseu foram alguns dos locais em que atuou nesta temporada. “Os produtores e organizadores destes eventos chegam a mim através de várias formas, mas principalmente através da reputação e do nome que fui ganhando nos eventos e festas de Braga e do Porto. Diria que dois terços dos contatos vêm a partir daí. A outra parte vem através de anúncios e publicações do meu trabalho em site”, explica.
Ao DN Brasil, conta que algumas situações são curiosas. “A situação mais curiosa foi na região de Miranda do Douro. Ao chegar lá é que descobri que as pessoas falam a segunda língua oficial de Portugal, o mirandês. E as crianças falam muito melhor o mirandês que o português, então vinham me pedir algumas músicas e eu não compreendi o que elas falavam, até que chegou outra pessoa para traduzir para mim”, explica. Lucas achou a situação engraçada. “ Eu não estava percebendo se aquilo era espanhol ou francês, e aquilo também parecia português. Só depois fui entender melhor”, pontua.
Mas o que um DJ brasileiro toca numa festa assim? No caso da região Mirandesa, o profissional criou uma playlist com músicas da região. No geral, diz que é um “mix de tudo”, de diversos estilos. “Toco um pouco de música brasileira, toco muita música popular portuguesa, como a pimba e músicas folclóricas. Se houver músicas regionais, como foi o caso em Miranda do Douro, me preparo para fazer uma curadoria de que músicas são essas. E também passo as chamadas músicas comerciais, que são os hits do momento, e músicas muito famosas que toda gente sabe dançar, como por exemplo Kuduro e Macarena. É um grande liquidificador musical”, avalia.
Segundo o DJ, as festas são interessantes pela diferença cultural. “Essas festas são bem interessantes. E isso é diferente das nossas festas no Brasil, onde geralmente temos um ou dois gêneros, e toda a festa fica em torno disso. Aqui não. Eles gostam de ouvir um pouco de reggaeton, depois querem que volte a pimba, depois querem um pouco de funk, e ficam irritados se eu fizer uma sequência de mais de 10 minutos de um mesmo gênero”, ressalta.
Sobre a forma como é tratado, por ser imigrante, diz que a experiência é boa. “Sinto que sou tratado como qualquer outro fornecedor ou trabalhador daquele evento. As pessoas interagem comigo, conversam, fazem perguntas, pedem músicas, me respeitam e me ouvem. Sinto que sou muito bem tratado nas terrinhas”, celebra.
Com uma carreira já consolidada como DJ no norte do país, avalia que os artistas conseguem blindar-se da xenofobia. “O que eu percebo é que a categoria artística tem a capacidade de furar um pouco a xenofobia que é tão vivida por muitos trabalhadores em Portugal”, avalia. O imigrante cita o caso de profissionais que atuam em restaurantes e cafés. “Enquanto que num café, um balconista brasileiro pode sofrer ofensas ou deboches por causa do seu sotaque ou simplesmente sua nacionalidade, um artista que está no palco é visto como uma pessoa que está servindo algo especial, que está animando a noite ou alegrando aquele momento da pessoa”, argumenta. Para o próximo verão, Lucas, espera que a temporada se repita em 2025 e que possa fazer a alegria nos recantos mais remotos de Portugal.
amanda.lima@dn.pt