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“Diplomas na gaveta”: livro O Mau Selvagem aborda desafios da nova vaga de imigrantes em Portugal
Álvaro acaba de lançar seu mais novo livro. Foto: Líbia Florentino.

“Diplomas na gaveta”: livro O Mau Selvagem aborda desafios da nova vaga de imigrantes em Portugal

O tipo de imigrante narrado na história é aquele que possui um diploma de ensino superior - às vezes até mais do que isso - mas que trabalha em serviços ditos “não qualificados”, ou seja, em que não é preciso uma formação acadêmica para desempenhar.

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por DN Brasil

Texto: Amanda Lima

“Como os brasileiros das vagas anteriores, portanto, a sanita ainda estava à espera para que enfiássemos a cara e a limpassem, de joelho, reverentes aos donos da casa. Diferente da vaga anterior, na gaveta de um roupeiro barato da Ikea encostado na parede de um minúsculo quarto arrendado, um diploma lembrava-nos de que o jogo ainda podia virar. Um diploma que para os portugueses não servia nem para limpar o cu, mas que para nós era uma espécie de amuleto”.

Este é um dos parágrafos que está nas primeiras páginas da obra O Mau Selvagem, do jornalista e escritor brasileiro Álvaro Filho. Morando em Lisboa desde 2016, o imigrante conta ao DN Brasil que estava “sentindo a necessidade” de escrever sobre o tema. A entrevista foi ao podcast do jornal, o Brasil Global (veja aqui).

O tipo de imigrante narrado na história é aquele que possui um diploma de ensino superior - às vezes até mais do que isso - mas que trabalha em serviços ditos “não qualificados”, ou seja, que não exigem uma formação acadêmica para que sejam desempenhados. É o caso de empregadas de limpeza, atendentes em cafés e lojas, onde é comum ver brasileiros trabalhando.

O personagem principal do livro é um imigrante brasileiro que trabalha em uma tradicional livraria de Lisboa. Muitos dos colegas são também brasileiros, com diplomas diversos guardados na gaveta, como Psicologia e Sociologia, mas que, em Portugal, aceitam outro emprego para sobreviver.

Na livraria onde a história corre, vários dos diálogos narram a xenofobia sofrida pelos brasileiros, em especial por ser um local onde a língua portuguesa é central. Num dos episódios, um cliente diz que quer um livro “em português de verdade”, ao ouvir da vendedora a sugestão de ler uma coletânea de Carlos Drummond de Andrade.

Álvaro revela ao DN Brasil que os diálogos são reais. O escritor esteve várias vezes com brasileiros que trabalham em livrarias da cidade para colher os depoimentos, que foram para o livro em forma de ficção - mas são facilmente reconhecidos por quem já viveu situações de xenofobia.

O Mau Selvagem também aborda a vivência destes imigrantes fora do ambiente de trabalho, como o fato de só conseguirem pagar por um quarto em uma casa com várias pessoas. É mais uma realidade que a maior parte dos brasileiros em Portugal também se identifica.

Todos esses aspectos são narrados em forma de um romance policial, um dos gêneros preferidos do escritor. Álvaro, que já tem diversos livros publicados, teve dificuldade em conseguir publicar a obra. O motivo: ou ser ignorado por editoras, ou por levar não. “Um me disse que autor brasileiro aqui não vende. Outro admitiu que não queria tratar desse tema”, revela o escritor. A positiva veio da editora Urutau, com sede no Brasil, mas com atuação também em Portugal. A obra tem sido elogiada pela crítica e já está à venda no site da Urutau por 15 euros e nas livrarias independentes, como na Travessa em Lisboa e na Casa do Comum, também na capital.

amanda.lima@dn.pt

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