Danilo Caymmi: "Pessoas como Tom Jobim tem que ser continuamente mostradas"
Artista vem a Portugal no final do mês para apresentar "Um Tom sobre Jobim", em projeto feito em parceria com Stacey Kent.
Texto: Nuno Tibiriçá
No ano em que se completam 30 anos da partida de Tom Jobim, um dos grandes amigos do maestro traz à Europa uma homenagem ao ícone da música brasileira. Criação de Danilo Caymmi, que fez parte da banda de Jobim nos anos 80, o show "Um Tom sobre Jobim", realizado em parceria com a cantora estadunidense Stacey Kent, será apresentado no Porto no final do dia 23 de outubro.
Prestes a retornar a Portugal, Caymmi concedeu entrevista ao DN Brasil e falou sobre a importância de continuar levando ao mundo as composições de Tom Jobim. Para o filho de Dorival Caymmi, existem personagens no meio cultural que não podem ser "esquecidos" com o passar de gerações.
"Tive a sorte de conviver com diversos nomes importantes da cultura brasileira, não só Tom Jobim, mas Jorge Amado, Pierre Verger, Vinicius de Moraes, Dorival Caymmi. São pessoas que tem que ser continuamente mostradas. É muito gratificante poder mostrar um pouco disso, especialmente para os mais jovens e em diferentes lugares do mundo", reflete Caymmi, que após o show no Porto segue para apresentação em Londres.
Na apresentação do dia 23, o artista terá ao seu lado a companhia de Stacey Kent, cantora com quem iniciou uma parceria há cerca de três anos e com a qual já esteve junto em outros shows, sempre em Portugal: "Até agora, foram muito bem sucedidas, é muito legal ver o interesse do povo português para com a música brasileira", afirmou o artista que, ainda neste ano, tem marcada a gravação do disco com Kent, além de apresentações inéditas com a cantora no Brasil.
"Ela é uma super intérprete e topou embarcar neste projeto. Uma cantora que para mim é fascinante, de uma precisão e afinação absoluta, que canta em francês, em português e inglês, naturalmente. Eu estava com muita vontade que o público brasileiro tivesse contato com essa artista, estamos muito animados", conta.
Com pouca rodagem pela Europa nos últimos anos, diferentemente dos tempos nos quais acompanhava a banda de Tom Jobim e rodou o mundo, o artista revela que, nas últimas vezes que esteve por aqui, não conseguiu aproveitar muito do país. Se tem algo que recorda com carinho, é da comida de um restaurante que ficava próximo ao hotel onde costuma se hospedar quando vem à Lisboa.
"Quando o artista viaja é tudo muito rápido, a gente vai de aeroporto para hotel para o palco. Quando estou em Portugal não dá muito tempo para turistar. Mas gosto muito de ir a um restaurante da Ilha da Madeira que fica no shopping das Amoreiras que tem umas espetadas maravilhosas", lembra Caymmi, se referindo ao restaurante O Madeirense.
Apesar de revelar nunca ter estado em uma das tradicionais casas de fado nos tempos em Portugal, a relação de Danilo Caymmi com a música lusitana é de longa data. De pequeno, ele se lembra de quando seu pai Dorival trouxe discos de um dos maiores nomes do fado para o Brasil após uma vinda à terrinha.
"Meu pai esteve em Portugal nos anos 1950 e lembro dele trazer discos da Amália Rodrigues, foi a primeira vez que a gente teve contato com esse repertório. Recentemente, a cantora Carminho esteve no Brasil, uma intérprete muito importante aqui e eu gostei muito", diz Danilo, que sente que a intensidade de artistas portugueses é algo para se inspirar.
"Acho que a música portuguesa tem muito isso, da interpretação, do sentimento, de se entregar completamente. Isso é legal e é algo que busco sempre, é uma busca constante da interpretação plena, de você mergulhar na canção. Quando você canta com muita concentração, você passa isso e emociona as pessoas", finaliza o cantor.
Vale lembrar que os ingressos para a apresentação de "Um Tom sobre Jobim" na Casa da Música já se encontram disponíveis para venda e podem ser adquiridos neste link. As entradas variam entre os €30 e os €45.
nuno.tibirica@dn.pt