Cultura como ferramenta para negócios: Brasil e Portugal mostram que é possível
Em entrevista ao DN Brasil, o presidente da APBRA explica por que "a cultura é o maior habilitador de negócios do mundo".
Texto: Caroline Ribeiro
A Paraíba vai sediar, em dezembro, o seu primeiro Festival Internacional Literário. A iniciativa vai ser um dos resultados do acordo de cooperação firmado, no início deste mês, entre o governo do estado e a Associação Portugal Brasil 200 anos (APBRA). Entre os objetivos do evento, a valorização da língua portuguesa, intercâmbio de ideias e abertura de novos contatos que geram oportunidades em todos os setores, não só o cultural.
Quem garante é José Manuel Diogo, um português "de cá e de lá", como se define. Vivendo entre os dois países há anos, Diogo é fundador e presidente da APBRA e diretor da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira. "A cultura é o maior habilitador de negócios do mundo. Só que, como há pouca gente transitando nos dois mundos, eles não entendem isso", afirma em entrevista ao DN Brasil.
O mundo dos negócios tradicionais gera "confiança, antes de mais, mais ainda quando são negócios internacionais, de importação, exportação, de abrir uma nova empresa em Portugal ou no Brasil", explica Diogo. No entanto, para um pleno desenvolvimento econômico, dominar os aspectos culturais é imprescindível.
"O conhecimento mútuo, que vem da cultura, nos ajuda. Temos hoje, em Portugal, 600 mil brasileiros, alguns falam em 800 mil, que são o grupo de consumo mais organizado no país. Alguns empresários dizem que querem ir com as empresas pro Brasil. Cara, nós já temos um Brasil em Portugal, que tem identidade própria, cultura própria, e que está comprando, e vocês não estão modulando para eles", explica.
E é aí que nasce uma das bandeiras do trabalho da APBRA, a conscientização de que a língua portuguesa é instrumento de cidadania e desenvolvimento. Foi com esse gancho que nasceu a Casa da Cidadania da Língua, sediada fisicamente em Coimbra, mas com ações desenvolvidas nos países da lusofonia.
Durante suas estadias no Brasil, José Manuel Diogo cumpre agendas extensas. Nesta rodada mais recente, além de firmar o festival literário paraibano, assinou acordo com o Senado Federal para levar a exposição fotográfica Os Rostos de Camões, já em dezembro, à Brasília. Também houve protocolo celebrado com a Universidade Estadual Paulista (UNESP), que, entre outros projetos, vai publicar uma curadoria de literatura portuguesa do século XX com autores que "muito pouca gente conhece. Miguel Torga, Aquilino Ribeiro, Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luis, Fernando Namora, Virgílio Ferreira, que são escritores extraordinários portugueses e que são uns completos desconhecidos aqui", conta.
Já com o SESC São Paulo, a associação vai realizar na capital paulista cursos formativos semanais focados no ensino, em oito módulos, sempre às terças-feiras de outubro e novembro, com temas como ensino da língua, linguagem e poder, inteligência artificial, teatro e até políticas públicas.
"Tudo começa pelo conhecimento. A gente tem muito orgulho de hoje ser uma associação muito relevante na relação entre os dois países e os acordos que a gente tem feito têm mostrado isso", afirma Diogo, confiante de que as relações entre Brasil e Portugal só têm a crescer.