Crescimento do PCC em Portugal já passa pelo recrutamento de presos portugueses
Foto: Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI-USP) / DR

Crescimento do PCC em Portugal já passa pelo recrutamento de presos portugueses

Promotor Lincoln Gakyia, do Gaeco de São Paulo, vê com preocupação as prisões portuguesas não têm sistemas de inteligência para monitorizar comunicações dos presos.
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Se a presença do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Portugal já é um fato conhecido, do Brasil chega agora o alerta, por um promotor brasileiro, de que os membros do maior grupo criminoso da América Latina já estão a recrutar cidadãos nacionais, não apenas brasileiros imigrantes que vivem em Portugal (e em outros países em que estão instalados). A facção pode estar interessada em montar seu próprio esquema de tráfico em Portugal, avisou o promotor Lincoln Gakyia, do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de São Paulo.

Na passada semana, o tema foi abordado em São Paulo no seminário internacional “Crime Organizado e Mercados Ilícitos no Brasil e na América Latina: Construindo uma Agenda de Ação”, onde o promotor Lincoln Gakyia falou sobre a implantação do PCC em Portugal. O promotor, entrevistado pelo DN em 2023, falou sobre a expansão internacional do grupo criminoso, a qual inclui Portugal, mas também os Países Baixos e a vizinha Espanha. As declarações neste encontro foram divulgadas pelo Estadão e Folha de São Paulo.

O promotor mencionou, no evento, que existem 87 integrantes do PCC em Portugal, com a ressalva de que o levantamento é do ano de 2023. Um ano antes, era cerca de metade. Além do número de integrantes, Lincoln Gakiya disse que Portugal possui um dos chefes do PCC, que é o responsável pelo tráfico. Na cadeia de comando da organização, o cargo é chamado de “Sintonia do Progresso”. Há também um responsável pelas armas e pelos membros que estão nas penitenciárias.

Na visão do investigador, esta diversificação de cargos - uma vez que o PCC possui uma estruturada hierarquia e planejamento - indica que a facção pode estar interessada em montar seu próprio esquema de tráfico em Portugal.

Segundo o promotor, ao contrário do que acontece no Brasil, as penitenciárias portuguesas não têm serviços de inteligência para monitorizar as comunicações dos presos. Para Gakiya, ter este mecanismo é considerado fundamental para o combate ao crime organizado. “Se eu fosse português, estaria preocupado”, disse o promotor.

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Ao mesmo tempo, foi confirmada a troca de informações entre as autoridades brasileiras e portuguesas sobre o PCC e outras organizações. Em entrevista ao Diário de Notícias no ano passado, o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Augusto Passos Rodrigues, confirmou que existem investigações conjuntas.

Em março, a Polícia Judiciária (PJ) prendeu um alegado membro da facção. A pessoa em causa era alvo de um mandado de captura internacional, emitido pelas autoridades brasileiras, e foi presa em sua casa na Grande Lisboa, na Margem Sul. Esta prisão, realizada em cooperação com a Polícia Federal, estava integrada numa investigação das autoridades brasileiras. A investigação apontou que o indivíduo “tinha como missão organizar toda a logística de retirada do produto estupefaciente dos navios, assim que estes amarrassem nos portos nacionais e europeus”. Nesta operação, além de três armas automáticas, foram apreendidos vários milhares de euros, viaturas de gama média/alta e equipamentos de mergulho.

De acordo com os investigadores, a partir das provas até agora recolhidas, “este grupo criminoso, agora desmantelado, dedicava-se à introdução de grandes quantidades de cocaína no continente europeu, por via marítima, por regra escondida em cascos de navios e nas caixas de leme”.

Na entrevista, o promotor destacou que “o PCC está a enviar esta droga para a Europa e o que nós fazemos normalmente é compartilhar informações com outras autoridades, designadamente com a Polícia Federal, encarregada de fazer os contatos com a polícia em Portugal e noutros países”. Para Gakiya, “o PCC sempre procura oportunidade de negócios. Portugal tem várias vantagens, como os portos e a língua que favorece a ida de muitos brasileiros”.

amanda.lima@dn.pt

Este texto está na edição impressa do Diário de Notícias desta segunda-feira, dia 30 de julho.
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