Creche em Lisboa antecipa festinha de natal para família brasileira participar
Quando soube que a família de Mateus, um dos primeiros alunos matriculados, iria voltar para o Brasil ainda em novembro, a equipe não teve dúvidas em fazer a confraternização mais cedo.
Texto: Caroline Ribeiro
As malas estão prontas, o coração está a mil. Miriane, Acácio e Matheus estão prestes a embarcar de volta para o Brasil, depois de um ano vivendo em Portugal. A viagem será nesta sexta-feira (28). Antes, a família teve um último compromisso especial em Lisboa: a festa de natal na creche que Matheus frequenta.
A confraternização ainda em novembro pode causar um pouco de estranheza, mas "fazia todo o sentido", diz a diretora, Sónia Almeida, ao DN Brasil. Matheus foi um dos primeiros alunos matriculados na creche, que abriu as portas no ano passado, e quando a equipe soube que a família iria deixar Portugal ainda este mês, não houve dúvidas.
"Nós sabemos que o natal é um momento muito importante para esta família, que o passou sozinha conosco o ano passado, porque foi o momento de chegada, portanto eles viveram o natal no ano passado em Lisboa, conosco, e agora viveram-no novamente, antes de irem para junto de sua família. É uma grande emoção", explica Sónia.
A família vai retornar para Ribeirão Preto, em São Paulo. Miriane Zucoloto é dentista e conduz uma pesquisa na área de epidemiologia em saúde pública. Veio para Portugal para realizar parte do trabalho, com uma bolsa de um ano de investigação. A família desembarcou, como muitos outros imigrantes, sem nenhum suporte para a adaptação de Matheus, de dois anos.
"O Matheus nunca tinha ido para escola e ele tinha muito medo de outras crianças. Como não tinha quase ninguém na creche, só ele, a Bia e o Rodrigo, ele foi apresentando a creche pra todo mundo que chegava, foi uma adaptação muito gradual e especial. Tivemos todo o apoio da Sónia em todo esse processo", conta a mãe ao DN Brasil.
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Quando soube que a festinha seria antecipada para que o menino pudesse participar, a brasileira conta que ficou emocionada.
"Foi um reconhecimento e tanto, porque a gente ia perder. E foi pra nós um fechamento de ciclo. Vamos levar só memórias boas", diz Miriane.
A creche, que caminha para o seu segundo ano de atividades, tem, atualmente, 75% das crianças matriculadas sendo de famílias imigrantes, além de 25% da equipe também formada por profissionais de outros países. Em tempos de tensões sociais que se agravam pelo mundo, com discursos instrumentalizados sobre as políticas migratórias, a diretora destaca que acolhimento e integração são benéficos para todos.
"Principalmente para estas famílias, e sentimos isso todos os dias, acolher traz a emoção de poder partilhar esta vivência com alguém, porque têm as suas famílias longe, e nós somos família dessas famílias. Aliás, é aqui neste ambiente que nós vemos que todos somos pessoas, independentemente das nossas culturas. Aprendemos a respeitar um bocadinho também mais a cultura dos outros e a partilhar este sentimento de ser família com os outros", completa Sónia Almeida.
caroline.ribeiro@dn.pt
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