Conheça a Brisa, galeria idealizada por casal de brasileiros em Lisboa
Bebel Moraes e Daniel Mattar estão à frente da galeria no Chiado há seis anos. Ao DN Brasil, falam sobre a experiência no mundo da arte em Portugal.
Texto: Nuno Tibiriçá
Bebel Moraes e Daniel Mattar levavam mais de 30 anos na carreira de comunicação quando decidiram mudar radicalmente a vida. Naturais do Rio de Janeiro, onde estudaram, viveram e trabalharam, os dois embarcaram para Lisboa há sete anos para consolidar um sonho antigo: ter uma galeria de arte.
“Nossos amigos na época falavam que o que a gente estava fazendo era uma loucura. Tínhamos uma carreira consolidada, uma vida estável no Brasil. Mas a gente já estava cansado, viajava muito, fora todas aquelas situações tristes no Rio. Viver fora sempre foi um projeto nosso e acabamos consolidando em 2017”, conta Bebel Moraes, comunicóloga que trabalhava como editora de moda.
Naquele ano, Bebel, Daniel e os três filhos se mudaram para Lisboa e, um ano depois, inauguraram a Brisa Galeria em um lugar mais do que privilegiado: nasceu na Rua Vitor Cordon, em pleno Chiado, no centro da cidade.
“Foi uma sorte. O prédio da frente estava sendo reformado, então a rua estava com construção, buraco, escavadeira… aquela coisa com pouca passagem. A gente caminhando, até desanimados, porque estava difícil encontrar um espaço charmoso e dentro do budget, Lisboa já estava quase no hype. E aí passamos aqui e e: "Peraí, Bebel". Limpei o vidro e vi esses arcos. E tinha um número de telefone que estava para alugar. A gente nem tinha muito essa noção do quão bom era o lugar, não conhecia muito a cidade. Foi só no dia a dia que a gente viu que realmente estávamos muito bem localizados”, diz Daniel.
Depois de algumas obras, o espaço na rua Vitor Cordon deu de vez espaço para a Brisa Galeria, espaço que recebe obras de arte contemporâneas desde maio de 2018. Desde então, Bebel é a responsável pelo “BackOffice” da Brisa, enquanto o próprio Daniel Mattar é um dos artistas que ali expõe os seus trabalhos, idealizados em seu atelier, em Marvila, onde a Brisa quase nasceu.
“Daniel é o artista e eu administro a galeria. No começo foi mais uma questão de conhecer o mercado, entender como funciona o mundo das artes em Portugal. E na verdade, vimos logo que estávamos muito bem posicionados: aqui, você está a duas horas de qualquer lugar da Europa, também é uma cidade com muitos estrangeiros, muitos turistas. Então acaba sendo muito mais fácil para divulgar o trabalho para o mundo também”, afirma Bebel, antes de Daniel completar:
“Estar em Portugal já ajuda muito, mas hoje a gente vê o quão fundamental foi estar aqui (Baixa). Porque na época tinham sugerido para a gente ir para Marvila, que Marvila ia acontecer, seria a nova zona cultural da cidade. Só que isso há sete anos. Aquela zona está começando a bombar agora. Se a gente tivesse aberto lá atrás, acho que não teria dado certo. Aqui já era legal e vai continuar sendo, é o centro”, conta o artista, que já lançou um livro
Entrar de vez no mundo da arte era uma ideia de longa data do casal. Formado em design pela PUC-Rio, Daniel desde cedo teve contato com o mundo das artes. Filho de um artista plástico e sempre convivendo com amigos pintores e escultores, dedicava parte do tempo a viagens mais comerciais, mas também a exposições de fotografias e a suas pinturas.
Bebel conta que no primeiro ano de galeria a ideia foi expor apenas o trabalho de Daniel, que teve quatro exposições de diferentes. Com o tempo, os galeristas começaram a trazer artistas convidados, especialmente brasileiros, para dialogarem com o trabalho de Daniel. São também quatro exposições diferentes por ano e, no próximo mês de setembro, está marcada a primeira exposição coletiva, com curadoria do português João Silvério.
Em seu trabalho, Daniel conta misturar as técnicas da longa carreira enquanto fotógrafo com a plasticidade das artes: “Eu faço pinturas em pequenas superfícies, numa pequena área com tinta, com pigmento mineral e fotografo essa área com muita técnica, luzes, sombras e trago uma outra dimensão e o trabalho final é um trabalho de grande escala, mas que vem de uma origem desse fenômeno ótico. Quando você vê ela na parede, parece que está saindo para fora, de fato. Uma escultura tridimensional só que com a fotografia bidimensional”, diz.
O sucesso da galeria em Lisboa e a possibilidade de ter um intercâmbio cultural com outros países da Europa e visitantes estrangeiros que passam pela Brisa, já fez o trabalho de Daniel ir longe. Quando participaram da primeira feira internacional de arte contemporânea no Grand Palais, em Paris, responsáveis pelo Deji Art Museum, na China, se interessaram pela arte do carioca e adquiriram a série dele para o museu.
“São possibilidades que dificilmente acontecem no Brasil. Por mais que no Brasil a gente tenha uma arte maravilhosa, artistas maravilhosos, feiras importantíssimas, você não tem tanto acesso a esse público tão internacional quanto aqui tem, principalmente em Paris, mas também em vários lugares da Europa. O Brasil é um berço da criatividade, mas infelizmente o acesso à cultura, nem sempre é correspondente ao tamanho do país”, finaliza Bebel.
A Brisa Galeria está aberta ao público de terça a sábado, das 11h às 19h. De momento, está em cartaz até setembro uma exposição comemorativa dos seis anos da galeria. Mais detalhes sobre os projetos de Bebel e Daniel podem ser encontrados no site oficial da galeria, neste link.
nuno.tibirica@dn.pt