Comida portuguesa com sotaque brasileiro: dupla aposta em restaurante típico no centro de Lisboa
A relação do paulistano Vagner Silva com Portugal vem de longa data. No país há 19 anos, ele escolheu Lisboa para morar após ter se apaixonado pela cultura lusitana nas suas aulas de Literatura Portuguesa nos tempos de faculdade, ainda em São Paulo. “Tinha uma professora que levava slides de lugares de Lisboa para as aulas, fotos do túmulo de Camões, do Mosteiro de Jerônimos, do Adamastor. Nós líamos os Lusíadas, Fernando Pessoa na faculdade e tudo que envolvia Portugal, ela levava fotos para a gente para ilustrar. Eu ficava me imaginando, sonhando com Portugal e com esses lugares. Foi praticamente assim que a história começou”, conta Vagner em entrevista ao DN Brasil.
Após concretizar o desejo da vinda a Portugal, estudar e passar por diferentes áreas de serviço até se estabelecer enquanto professor na terrinha, sua vida no país ganhou novos rumos quando deixou as salas de aula para empreender. Ele começou a investir em Airbnb's quando viu que o turismo era algo que tinha vindo para ficar em Lisboa. Mais recentemente, entrou em outro ramo nos negócios que junta sua veia ambiciosa de empresário com a paixão pela cultura local: um restaurante de comida portuguesa.
“Foi muito desafiador. O português, é muito exigente com comida, então acho que é uma ousadia, por ser brasileiro, tocar um restaurante de comida portuguesa, tem que fazer melhor ainda porquê, num primeiro momento, é capaz de alguém torcer o nariz. Ao mesmo tempo, também vejo que Portugal tem um povo que se adapta muito facilmente, então entendo que a nossa proposta também suscinte uma curiosidade, eles também gostam do diferente. Até agora tem resultado”, diz com alegria Vagner, um dos responsáveis pelo recém-criado Ameathology, situado na região do Areeiro, e que tem os portugueses como principais clientes.
A companhia no empreendimento ajuda. Ao seu lado no restaurante - anteriormente apenas Meathology e que ganhou um “A”, resultando num trocadilho com “Ame” - está Cícero Silva, Ciro para os mais próximos, um legítimo cozinheiro de mão cheia. “O Ciro chegou em Portugal há vinte anos e é um fenômeno na cozinha. Ele trabalhava numa casa minhota, com portugueses super exigentes que, no começo, só aceitavam que ele fosse contratado se fizesse cozido, feijoada à trasmontana, todas essas comidas tradicionais. E ele fazia os melhores. Não à toa os festivais fazem sucesso por aqui”, conta Vagner ao se referir ao sócio.
Os tais festivais aos quais Vagner se refere são realizados mensalmente no Ameathology. Cada festival, sempre aos sábados, conta com variações de pratos típicos da gastronomia portuguesa, brasileira e até cabo-verdiana. “Já fizemos o festival de arroz, com arroz de pato, de polvo, de cabidela, de miúdos, entre outros. Festival de bacalhau com outras tantas variedades e tivemos também o de feijoada, com a nossa brasileira, a portuguesa e a cachupa, que é uma variação típica de Cabo Verde e São Tomé”, explica o empresário, que no último festival de bacalhau fez a ponte Brasil-Portugal ao introduzir música brasileira ao vivo com a cantora Thais Assis.
Festivais à parte, os pratos do dia a dia são aqueles que podem ser encontrados em qualquer restaurante ou tasca tipicamente lusitana, como bitoques, alheiras, diferentes tipos de bacalhau, francesinhas, entre outros. E mais: pelo sabor e confecção do que é servido no Ameathology, não há como mesmo quem é daqui não sentir que está em uma casa portuguesa, com certeza.
“Apesar de fazer comida brasileira, a especialidade do Ciro é justamente a cozinha portuguesa. Ninguém que vem aqui desconfia que seja um brasileiro por trás daqueles pratos, mas ele tem mais de vinte anos de Portugal, muitos anos de experiência e a história dele foi algo que realmente me fascinou. Não tive dúvidas que seria a pessoa certa para estar junto nesse projeto”, entende Vagner.
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A reportagem do DN Brasil confirma a fala do empresário. A convite e por sugestão de Vagner, experimentamos a bacalhau a minhota, prato de difícil execução e que, no Ameathology, está à altura das melhores tascas de Lisboa. Com uma leve crosta - o prato em muitos restaurantes vem com empanamento exagerado - o macio e bem temperado bacalhau da casa chega acompanhado de muita cebola caramelizada na frigideira, azeitonas, coentros e batatas em rodelas que beiram a perfeição. “Aqui é batata de verdade, nada congelado. É algo que dá mais trabalho, mas o Ciro só trabalha assim”, diz com entusiasmo o empresário.
Feliz com o Ameathology e perto de completar duas décadas em Portugal, Vagner vê no novo empreendimento a colheita dos trabalhos e das relações que construiu no país ao longo dos últimos anos. Desde panfletagem nas ruas, membro de plateia de programas televisivos, professor de literatura e empreendedor, ele fez de tudo um pouco. Agora, sonha em retribuir tudo que Portugal lhe proporcionou através de algo que é levado muito a sério e é motivo de orgulho dos portugueses: a culinária.
“Sou completamente apaixonado por Portugal. É um país que me abriu muitas portas ainda antes de vir para cá. Agora a gente espera que tanto para os portugueses, quanto para os brasileiros que escolheram vir para cá, o restaurante seja um ponto de encontro com aquela comida de conforto, que aquece a alma”, finaliza o empresário.
Serviço
Onde? No restaurante Ameathology (Av. São João de Deus 41F. Lisboa)
Preço: €15 - €20
Horário: de segunda a sábado, das 11h às 22h30
Mais detalhes acerca dos festivais mensais podem ser encontrados neste link.
nuno.tibirica@dn.pt