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Carreira no Brasil, mudança em família e vontade de "algo mais" levam brasileiras a empreender em Portugal
Flávia Bravo faz parte do Grupo Mulheres do Brasil Lisboa. Foto: direitos reservados.

Carreira no Brasil, mudança em família e vontade de "algo mais" levam brasileiras a empreender em Portugal

Flávia Bravo era executiva em grandes corporações no Brasil, tirou um ano sabático em Portugal e resolveu apostar na própria carreira por cá. Hoje, é mentora e consultora de estratégia para quem deseja empreender ou alavancar sua empresa.

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por DN Brasil

Texto: Caroline Ribeiro

Brasileiras que decidem apostar no empreendedorismo em Portugal têm um perfil geral: são mulheres de 30 a 45 anos, que se mudaram em família, com filhos, e querem fazer "uma coisa a mais". Quem traça as características é Flávia Bravo, mentora e consultora de negócios, ela própria uma empreendedora imigrante.

Flávia se mudou para Portugal com a família para "um ano sabático", conta ao DN Brasil. Foram anos de uma carreira de sucesso como executiva em grandes marcas, lidando com inovações digitais, e até com os próprios empreendimentos, até que o desejo de desacelerar apareceu. Portugal surgiu como uma escolha natural.

Neta de portugueses, a carioca cresceu "comendo muito bacalhau" e confiou na intuição. "Foi um insight que eu tive e tinha que adequar também a situação da minha filha, porque ela estava em época de faculdade e aqui tinha a questão do Enem, que facilitava a entrada, então era mais fácil. A minha filha vinha vivendo um momento difícil na vida dela, então a gente achou que aqui era tranquilo. Foi muita intuição, sabe, eu trabalho muito com intuição. Então resolvi para um pouquinho para pensar a vida", diz a brasileira.

Foi um momento de pausa, mas "sem desconectar de tudo". Flávia fez um mestrado e começou a se envolver em projetos sociais, algo que já fazia no Brasil. "Aí vem a pandemia e eu começo a me dedicar integralmente à Banco Alimentar, ao Refood, ao Grupo Mulheres do Brasil, para ajudar, até que eu percebi que tinha virado uma empreendedora social", relembra.

"Eu dava mentoria gratuita para microempreendedoras, como voluntária, e cheguei à conclusão de que se eu fosse consultora, naquela fase da minha vida, eu já poderia não me vincular a um negócio só, e sim a vários. Já vinha com essa bagagem de indústrias totalmente diferentes e achei que podia ajudar as pessoas, porque eu sofri muito na minha transição para empreender. Eu não tinha experiência, eu tinha experiência de grandes corporações e de estudo, um background bacana, mas não de empreendedorismo", lembra a consultora.

Construindo seu caminho em Portugal, Flávia intensificou a atuação junto à mulheres imigrantes. Hoje, é líder do comitê de empreendedorismo do do Grupo Mulheres do Brasil em Lisboa e consegue identificar pontos fortes nas conterrâneas que, assim como ela, decidem empreender.

"As mulheres que estão aqui, normalmente, são pessoas que tiveram carreira no Brasil, mas aqui não conseguem se encontrar dentro da carreira. Ou já não querem mais aquela carreira. Tenho o caso de uma anestesista no Brasil que montou uma cozinha cowork aqui. Às vezes as pessoas também querem se reinventar", explica.

Empreendedorismo imigrante

Em geral, a especialista analise que existem dois "modelos" de empreendedorismo nos quais se encaixam os brasileiros, que exigem um olhar focado para que o negócio dê certo. Um é o que ela chama de "empreender por necessidade". "Não era o sonho da pessoa empreender, mas ela chega aqui e não consegue uma vaga à altura. A gente sabe como é a questão de salários, são muito baixos. E a pessoa começa a pensar em fazer alguma coisa, né? Ela é especialista em algo, mas muitas vezes não tem uma visão de gestão. Então, existe muita falha", avalia.

Segundo a brasileira, muitas pessoas chegam sem preparo, justamente porque empreender não era o objetivo inicial. "Já passou gente por mim que estava faturando muito, mas estava tendo prejuízo e não sabia. Estava adquirindo equipamentos e coisas que não tinha nem como pagar com o próprio negócio. As pessoas chegam muito sem preparo, porque não pensam em vir para Portugal e empreender. Esse é um público", diz Flávia.

A segunda modalidade é o "copy + paste", algo como o "copiar e colar" dos comandos de um computador. "São pessoas que já empreendem no Brasil e querem empreender aqui e acham que é copy - paste, e não é. Nem aqui, nem em nenhum lugar no mundo. Porque são questões culturais. E tem muita coisa, não só de legislação, de contabilidade, mas como regras de atuação de mercado, comportamento do consumidor, o ecossistema. Você pode ter uma baita empresa no Brasil, que tenha muito sucesso, mas você não pode reproduzir a mesma coisa aqui".

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Flávia ressalta que a "tendência de otimismo" dos brasileiros faz com que muitos empreendedores confiem que "vai dar certo". O otimismo inicial é bom, ressalta, mas é preciso entender as especificidades do mercado local. A consultora destaca que aproveitar o momento do otimismo, "dessa coragem inicial, é importante para dar um primeiro passo, aproveitar para refletir sobre o propósito, o que gosta de fazer, quais são as motivações", diz, ressaltando que "não é pra sair fazendo. É preciso planejar antes, organizar muito bem e se preparar".

E para quem precisa de um impulso, Flávia destaca que Portugal oferece um ponto positivo importante. "É um país estável, isso nos ajuda muito, para planejar as coisas a longo prazo", diz. De acordo com a especialista, estatísticas mostram que os dois primeiros anos de um novo negócio "são muito difíceis". "Ninguém te conhece, então tem que se preparar para esse período. A maior parte pega o dinheirinho inicial e já vai fazendo mídia social, gasta dinheiro com site, sem ter estratégia. E o que é estratégia? É você saber onde você está, para onde você vai e como você vai", reforça.

caroline.ribeiro@dn.pt

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