Carminho: "O Milton Nascimento é o meu padrinho na música"
Em entrevista ao DN Brasil, a fadista que acaba de fazer uma segunda parceria com Caetano Veloso, fala sobre sua relação com o nosso país.
Texto: Nuno Tibiriçá
A fadista Caminho, um dos principais nomes da música contemporânea portuguesa, já fala com traços de português do Brasil quando lembra da sua relação com o nosso país. Após lançar o seu mais recente EP na última sexta-feira (11), com outra parceria com Caetano Veloso dois anos após a composição de Você Você em conjunto com o mestre da MPB, Carminho concedeu entrevista ao DN Brasil e falou sobre como tem construído o seu nome no país.
"Não é tão comum que o público brasileiro conheça a música portuguesa, ao contrário de nós, que conhecemos muito bem a cultura do Brasil, os músicos, poetas e repertório como um todo. Mas de alguma maneira, comigo, eu senti que houve uma abertura, alguns brasileiros já me disseram que, com a minha música, inverteram um bocado o ciclo de só ouvir a própria música brasileira", comenta a cantora, que recebeu a reportagem do DN Brasil na Baixa de Lisboa.
Na mais recente parceria com Caetano Veloso, inserida no EP Carminho at Electric Audio, gravado em Chicago, a fadista interpreta Os Argonautas, música composta pelo baiano em 1969 e que faz alusão ao poema homônimo de Fernando Pessoa. A música já havia sido adapatada por Carminho na última turnê de Caetano Veloso em Portugal, quando a cantora participava dos seus shows com a faixa Você Você, do álbum Meu Coco. O gostinho de "quero mais" fez Os Argonautas surgir no alinhamento.
"Nós cantávamos Você Você juntos nos concertos, mas eu achava que era muito cruel tocar apenas uma música no show de Caetano. Ele disse para eu escolher outro, e sugeri Os Argonautas. É uma música que reflete este encontro entre Portugal e Brasil, duas nações de uma mesma língua, com essa transatlanticidade do mar, de porto e das palavras de Fernando Pessoa", conta.
Consolidada como um dos principais nomes da música portuguesa na atualidade, Carminho, através de parcerias e turnês, tem também adentrado cada vez mais o universo musical brasileiro. Ao longo de sua carreira, a fadista já gravou ou participou de shows de alguns dos mais consagrados artistas brasileiros. Além de Caetano Veloso, a cantora portuguesa já trabalhou ao lado de nomes como Alceu Valença, Alcione, Chico Buarque, Martinho da Vila, Marisa Monte, Nana Caymmi, Ney Matogrosso e outro que teve papel fundamental para seu crescimento na carreira: Milton Nascimento.
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"Houve um momento marcante na minha carreira, que foi quando o Milton me chamou para fazer parte de um show dele em Lisboa. Eu tinha acabado de lançar meu segundo disco, estava começando, e, a partir daí, se abriram muitas portas. O Milton me apresentou muita gente, empresários, artistas e, depois, pude realizar o sonho de ir ao Brasil e gravar com ele", relembra, antes de completar:
"Ele é o meu padrinho na música, sem dúvida. Uma pessoa que me proporcionou muitas coisas incríveis na minha vida, sobretudo estar ao lado dele e cantar com ele. É uma experiência mística", destaca.
A partir da parceria com Milton Nascimento, o caminho de Carminho no Brasil foi se desenhando aos poucos. Em 2016, a cantora gravou, Carminho Canta Tom Jobim a pedido da família do maestro. O álbum foi lançado pela Warner Music Portugal e conta com composições históricas de Jobim como Sabiá, Wave e Retrato em Preto e Branco na inconfundível voz da fadista.
Para Carminho, além de todos os músicos que abriram as portas para seu trabalho no Brasil, a boa relação com o povo brasileiro fez com que, por lá, ela se sinta sempre em casa. "Tive muito carinho, não só destes artistas, mas também do público, da imprensa, foi algo realmente maravilhoso e continua a ser, porque sempre volto: ainda agora estive a fazer uma segunda turnê de Portuguesa no Brasil", finaliza a cantora, que após esta entrevista, seguiu em direção ao Japão para digressão do mesmo álbum.
O EP Carminho at Eletric Audio - que além da interpretação de Os Argonautas ainda conta com mais três músicas inéditas da fadista - pode ser ouvido neste link.
nuno.tibirica@dn.pt
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