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Cantora Mayla Haddalla fala sobre o racismo e a carreira enquanto artista em Portugal
Mayla Haddala vive em Leiria desde 2022. Foto: Divulgação / Tayssa Borges

Cantora Mayla Haddalla fala sobre o racismo e a carreira enquanto artista em Portugal

Em entrevista ao DN Brasil, carioca conta sobre a carreira na música e os percalços na vida de imigrante em Leiria.

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

A cada momento que tem a oportunidade, Mayla Haddalla aproveita para cantar um trecho de algumas de suas músicas e faz com que esta entrevista se torne em uma espécie de show particular. Crescida em uma família de músicos no Rio de Janeiro, a cantora construiu sua carreira no meio artístico brasileiro antes de se mudar para Leiria, no centro de Portugal, há pouco mais de dois anos. Por aqui, a vida de imigrante fez Mayla ter que trilhar caminhos diferentes até começar a ganhar nome na cena artística.

"Mudei para cá porquê sentia a necessidade de dar um passo adiante na carreira, chegar ao público europeu. Mas sabia que para isso, o começo não seria fácil, as pessoas não íam saber ainda quem eu era, já vim mentalizada para trabalhar em outras áreas, em faxina, em restaurante, só para pagar as contas enquanto também compunha e gravava em casa. Talvez não pensasse que seria tão difícil quanto foi", conta Mayla ao DN Brasil.

No meio musical desde a adolescência, quando montou sua primeira banda, Mayla construiu a carreira cantando em bares, eventos e especialmente fazendo back vocals. Fez colaborações com músicos como Kleber Lucas, Cláudio Claro e Marquinhos Gomes, deu aulas e conseguiu viver da música durante a vida.

A tentativa de expandir os horizontes passou por uma mudança para Portugal, mas as oportunidades demoraram a aparecer. Mesmo a chance de trabalhar nas áreas que pensava conseguir, setores de faxina ou restaurantes, não surgiu. Mayla, paralelamente ao sonho de ser cantora nos palcos europeus, cantava nas manhãs e madrugadas em que trabalhava na reciclagem do lixo em Leiria.

"Depois de quatro meses aqui, o único lugar que me deu contrato de trabalho foi na reciclagem do lixo. Ali foi bem difícil: mexendo com bicho morto, rato, entrando em esgoto... tive até que procurar ajuda de uma psicóloga nessa época. É um trabalho duro, a maioria são mulheres e carregam muito peso, muitas horas de trabalho. E é um lugar que as pessoas não conseguem ser propriamente simpáticas com você: todo mundo que está ali, está sofrendo", lamenta a imigrante.

No dia a dia, Mayla não se abalava com o ambiente complexo do local de trabalho e, e enquanto separava o lixo, tentava trazer um pouco de energia positiva com as suas composições. Quando saia do trabalho, investia no seu canal do Youtube e redes sociais, até que oportunidades começaram a aparecer.

"Aos poucos começaram a aparecer convites para eventos, barzinhos... e no meio tempo não renovaram meu contrato na reciclagem, o que considero uma benção", diz. Um dos eventos que teve a participação de Mayla foi o Diáspora Fest, que contou com a presença do DN Brasil. Agora, ela espera mais oportunidades para consolidar o seu nome na Europa.

"Financeiramente, ainda não é onde quero chegar, mas está fluindo. Acredito que logo, as coisas vão começar a melhorar, eu sinto as portas se abrindo. Apesar das dificuldades, gosto de estar aqui", celebra a artista.

O racismo no Brasil e em Portugal

Ao contar as histórias da sua infância e adolescência, Mayla lembra da música "Tão Linda". Para ela, falar desse período da sua vida, é falar de racismo. Em um trecho de "Tão Linda", a artista canta: "Vivia um terrível pesadelo, o meu inimigo era o espelho".

"Na época, começo dos anos 90 mais ou menos, a gente nem sabia que era racismo, né? Mas era aquela coisa, falavam do cabelo bombril, da boca... mas acho que no Brasil esse cenário melhorou muito nos últimos anos, a gente hoje em dia debate muito mais. Aqui ainda é complicado, especialmente no interior. Parece que as pessoas nem sabem o que é racismo", explica Mayla

A carioca diz ter passado pelas mais diversas situações de racismo desde que chegou ao país, tanto no trabalho, quanto para arranjar casa e até para fazer compras. Para ela, a questão não passa por ser brasileira, mas sim, por ser negra.

"Chegava no refeitório do trabalho e era: "Tira a peruca". No mercado, aconteceu uma situação super desconfortável uma vez: estava para pagar as compras e sem rede no celular, fui ali até o máximo da entrada para pegar a internet e o segurança chegou perto de mim e falou: "não tá pensando em sair com esse carrinho, né?". Depois que dei uma bronca ele falou que brincou comigo porque eu era brasileira. Como ele sabia?"

Para conseguir casa, a situação de Mayla e sua família foi ainda mais desconfortável. Tinha tudo combinado por telefone com a senhoria, o que não era pouco: quatro meses adiantados, caução e dois fiadores, uma realidade conhecida de brasileiros. Ao chegar no apartamento para conhecer a senhoria pessoalmente, ouviu que não teria condições de pagar aquele lugar.

Mesmo com as dificuldades, tanto para se inserir no mercado de trabalho que pretende, quanto no preconceito vivido nos mais diferentes ambientes no seu dia a dia, Mayla Haddalla não se abala. A artista acredita numa mudança no ser humano, já que, ela mesma garante: não pretende mudar.

"As pessoas vão ter que mudar a mentalidade delas, como eu sinto que aconteceu no Brasil. Eu aqui vou continuar andando na rua desse jeito, deixando meu cabelo assim e tentando ser uma inspiração para as mulheres negras, para todas as mulheres. Esse país está aberto a muitas culturas, fazemos parte disso. Vou continuar tentando levar minha voz para as rádios e vão ter que aceitar", finaliza.

nuno.tibirica@dn.pt

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