Por que as casas em Portugal não possuem ralo? Arquiteta explica

Texto: Caroline Ribeiro

Lavar a casa jogando aquele balde d'água com sabão no piso traz paz ao coração de muitos brasileiros. Esfregar o chão com a vassoura de piaçava, depois empurrar a água com o rodo para o ralo, seja na varanda, no banheiro, na cozinha, olhar para aquele brilho e sentir a limpeza com os solados dos pés dá uma satisfação inexplicável. Sem generalizar, claro, pois tem quem não goste. No entanto, não se pode negar que limpezas com água abundante são costume popular no nosso país.

Talvez se tornaram hábito porque as casas brasileiras deram condições, com o uso de impermeabilizantes nos pisos. Ou talvez os construtores passaram a utilizar impermeabilizantes porque os moradores começaram a jogar muita água... Se foi o ovo ou a galinha, nunca saberemos.

Justamente por isso, viver em Portugal pode nos privar de tamanha alegria. Pra mim, não tenham dúvidas, foi duro demais aderir ao balde com esfregona, dupla usual para as limpezas em qualquer ambiente em neste país. "Cadê o ralo dessa casa?" questionam-se os brasileiros ao tentar dar aquela boa faxinada na sua nova casa portuguesa, com certeza.

"É uma questão muito cultural. São culturas diferentes de limpeza. Em Portugal, usa-se produtos mais apropriados para limpeza, o que reduz o consumo de água. A parte do clima também. No Brasil, há mais chuvas do que em Portugal. Então você tem que ter mais preoucupação com um escoamento maior pra evitar alagamentos dessa água", explica ao DN Brasil a arquiteta e engenheira civil da Sippro, empresa que atua no Brasil e em Portugal, Paula Mota.

Para quem está tranquilo com seus ralos no Brasil, segue um alerta. A tendência é que a água seja cada vez menos a estrela das limpezas no país. "Hoje em dia, a arquitetura brasileira está mudando para atender mais o mercado, que recebe melhor, atualmente, apartamentos menores, mais fáceis de serem geridos por famílias pequenas. Os layouts estão integranda sala e cozinha. O que antes era bem definido como uma área seca e outra molhada, agora é considerado uma área social só, por isso as construções não estão mais impermeabilizadas como antigamente", diz Paula Mota.

A arquiteta também destaca que, naturalmente, "há uma evolução dos métodos". "Já temos produtos de limpeza que cumprem um papel mais eficiente do que água com sabão. E um peso muito grande, também, é da sustentabilidade. Temos que nos preocupar com o consumo de água e como isso afeta nosso planeta e a arquitetura tem que se dapatar a isso. Evitando impermeabilização em alguns ambientes, evitando ter parte de drenagem, justamente porque não é tão necessário assim limpar uma casa com tanta água".

Em prol do meio ambiente, a consciência de cada um deve ir se adaptando, litro a litro, esfregão a esfregão.

caroline.ribeiro@dn.pt

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