Brasileiros desesperados com demora nos vistos fazem ação nas redes sociais
Grupo gravou vídeos para as redes sociais com objetivo de chamar a atenção para o problema. Também estão planejando prostestos em Salvador e São Paulo.
Texto: Amanda Lima
Alexandre Alves, 33 anos, esperava passar o Natal já em Portugal. O pernambucano aplicou o visto de procura de trabalho em Salvador juntamente com a esposa no dia 12 de junho deste ano. Decidiram marcar a passagem para 15 de novembro, cinco meses depois do pedido, pensando que seria margem suficiente para algum eventual atraso.
Passados praticamente seis meses, o brasileiro está com a vida suspensa enquanto aguarda uma resposta - e longe da esposa, que teve o visto aprovado."Nós enviamos no mesmo dia, mesmos documentos, o dela aprovou e o meu não teve resposta", conta ao DN Brasil. Alexandre diz se sentir "injustiçado", por ter feito o processo corretamente. "É uma sensação de injustiça, estar destruindo meu planejamento que levei anos para me programar e fazer uma imigração legal. Estou perdendo oportunidade de emprego, passando um enorme desgaste emocional", explica.
Além disso, afirma que o pior é estar longe da esposa, que já se mudou para não perderem o contrato da casa que alugaram em Portugal. "Ela esta lá sozinha", relata o pernambucano, que diz jamais ter imaginado passar por essa situação, ainda mais Natal e Ano Novo longe da companheira. O prejuízo financeiro com a demora e quatros passagens remarcadas já passa do 10 mil reais.
Alexandre não é o único. Depois de cinco meses sem resposta, ficou sabendo de outros casos parecidos, principalmente em Salvador. "Várias pessoas foram identificando que tinha algo errado, pois geralmente são processos enviados nos mesmos meses que estão parados, enquanto os recentes estão saindo, fizemos algumas buscas em redes sociais e montamos um grupo com essas pessoas que estão na mesma situação", conta.
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O grupo já possui mais de 100 pessoas, de norte a sul do país, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, com histórias semelhantes. A maior parte das situações são de vistos de procura de trabalho. Há casos em que a demora está perto dos 200 dias. Conforme a lei portuguesa, o prazo é de 60 dias.
Os relatos mostram o desespero da demora e de não ter resposta, apenas mensagens automáticas. Em um dos depoimentos, o brasileiro diz que pediu demissão e saiu da casa onde morava. Agora, está desempregado e na casa da mãe, sem nenhuma previsão de quando terá ao menos uma resposta. Em outro relato, o visto do marido da imigrante ainda não saiu. Ela mudou-se com as duas crianças e, agora, uma delas está doente e com o pai longe, sem respostas do consulado.
A analista contábil Lorena Nayara Oliveira Barros Dias, 35 anos, solicitou o visto também em Salvador no dia 18 de julho, junto com o marido. A viagem foi programada para novemebro, o que exigiu vender bens como carro e moto, pedir demissão do trabalho e do filho da escola. Até agora, nada.
Segundo a brasileira, há um "jogo de empurra-empurra" entre a VFS Global e o consulado. "A própria VFS tira o time dela de campo jogando a responsabilidade para o consulado e o consulado quando entramos em contato tbm por email joga para a VFS. E assim ficamos sem resposta de nada", desabafa ao DN Brasil.
Débora Amanda Barros, 28 anos, também vive na incerteza com o marido. Foi ele quem solicitou o visto em Salvador no dia 12 de junho. O plano era ele ir e a família em seguida via reagrupamento familiar. Passados mais de seis meses, estão todos ainda no Brasil.
Ela relata que é "frustrante" esperar sem ter nenhuma resposta. "Nós nos sentimos muito impotentes, não existe nenhum órgão capaz de fiscalizar ou pressionar nem a VFS nem o Consulado. Se ao menos nós tivéssemos respostas mais claras da parte deles, ao menos teríamos mais paz. Fizemos tudo certinho, pagamos uma assessoria, não descumprimos nenhuma regra, e mesmo assim passamos por isso. É frustrante. Nossa única esperança é tentar chamar a atenção deles", relata.
A demora ocorre enquanto o atual Governo reafirma diversas vezes que os imigrantes devem solicitar visto. Há mais de seis meses, o Executivo acabou com as manifestações de interesse, justamente para incentivar a imigração com visto. Há meses o DN Brasil questiona o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) sobre o assunto, mas nunca teve uma resposta. O espaço continua aberto.
amanda.lima@dn.pt
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