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Brasileiro vencedor do National Book Award publica romance premiado em Portugal
Stênio Gardel em Lisboa para a entrega do Prêmio Leya ao escritor brasileiro Victor Vidal. Foto: Gerardo Santos / Global Imagens.

Brasileiro vencedor do National Book Award publica romance premiado em Portugal

"A palavra que resta", romance de estreia do cearense Stênio Gardel, acaba de ser lançado em Portugal pela editora Dom Quixote. De passagem pelo país, o escritor conversa com o DN Brasil.

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por DN Brasil

Texto e entrevista: Caroline Ribeiro

"A palavra que resta", romance de estreia do escritor cearense Stênio Gardel, acaba de ser lançado em Portugal pela editora Dom Quixote. No ano passado, a versão em inglês do livro, The word that remain, foi a vencedora do National Book Award na categoria tradução. O prêmio é o mais prestigiado do campo literário nos Estados Unidos e foi a primeira vez que um autor de língua portuguesa venceu.

O livro conta a história de Raimundo, um homem analfabeto de 71 anos, que guardou durante toda a sua vida a carta escrita pelo rapaz por quem se apaixonou na juventude. Ao criar coragem para aprender a ler, Raimundo recorda o passado e enfrenta o futuro, em uma narrativa envolvente e violenta.

Stênio Gardel participa de uma série de eventos em Portugal até a próxima semana. Em conversa com o DN Brasil durante a cerimônia de entrega do Prêmio Leya ao também brasileiro Victor Vidal, falou sobre o atual momento das produções em língua portuguesa e sobre o sucesso de seu primeiro livro pelo mundo.

"A palavra que resta", de Stênio Gardel, lançado em Portugal pela editora Dom Quixote. Foto: Caroline Ribeiro

Como você avalia a literatura brasileira e em língua portuguesa na atualidade?

Vejo com muito entusiasmo, produções tão diferentes, de autores com vozes e temáticas diferentes, que, por muito tempo, a gente não via na literatura e trazem assuntos tão importantes para serem discutidos. Falando do meu livro, ele traz à tona homofobia, transfobia, como também as possibilidades de se encarar isso e encontrar afeto, encontrar respeito e aceitação. Assim também como a gente está tendo muitas produções por mulheres, produção por autoras e autores negros. E isso é muito positivo, para que a gente tenha todos esses pontos de vista e esses locais, esses lugares, tendo seu espaço na literatura e no mercado também.

Falando do seu livro, porque foi importante para você contar a história do Raimundo? Por que foi importante botar isso no papel?

Em primeiro lugar porque eu tinha um sonho de escrever desde muito novo, desde 12, 13 anos, eu já queria contar histórias e conversar com as pessoas, tentar fazer as pessoas se emocionarem da mesma forma que eu me emocionava quando eu lia. Então, quando eu me vi já 23 anos depois desse sonho, ainda sem escrever nada, já estava, na verdade, se tornando quase uma angústia. Eu precisava de alguma forma encontrar um meio ou esquecer desse sonho. Mas, como ele era muito importante e outras pessoas acreditavam em mim, como a minha mãe, eu passei a me dedicar mais. Eu tinha a ideia do Raimundo, desse homem que guarda uma carta por muito tempo, sem ler, porque ele não sabe ler ainda e vai aprender para isso. Então, em primeiro lugar, eu escrevi a história do Raimundo para que eu pudesse realizar o sonho de escrever. Assim como ele tem o sonho de aprender a ler e escrever, eu realizei, por meio do sonho dele, o meu sonho de me tornar escritor. Em segundo lugar, a história me permite conversar com pessoas que eu não conheço, talvez nunca conhecesse, e sobre assuntos também à respeito dos quais eu não conversasse trivialmente. E fazer isso de um jeito especial, como é o texto literário.

Seu livro agora está disponível em Portugal. Como você acha que será recebido aqui, visto que Portugal tem seguido uma tendência europeia de crescimento de movimentos políticos de extrema-direita, que não contemplam uma agenda positiva para a diversidade?

O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIAPN+. Em especial mulheres trans. É um grupo também com baixíssima expectativa de vida, em torno dos 35 anos. Casos de violência brutal contra pessoas trans, como ocorreu aqui em Portugal com Gisberta* também são notícia e aparecem, infelizmente, com frequência ainda no Brasil. Também no Brasil nós estamos vivenciando esses movimentos políticos, não no mandato atual [governo Lula], mas no mandato passado [governo Bolsonaro]. Mas não é algo que se apagou. E ainda tem suas consequências e suas reverberações. Acho que, por esses parâmetros, talvez o livro possa encontrar um espaço semelhante àquele que ele encontrou no Brasil. Porque no Brasil ele foi inicialmente publicado em 2021, no meio da pandemia, no meio do mandato passado. Então, se tomarmos por essa perspectiva, eu espero que o livro possa chegar tanto aos brasileiros que já moram aqui, quanto também aos portugueses, como uma forma de, em primeiro lugar, de ler uma boa história, que era isso que eu tinha em mente, e em segundo lugar, também conhecer esses personagens. E talvez depois da leitura, voltar o olhar para a nossa realidade e perceber que não precisa fazer algo muito grandioso, basta uma diferença no olhar para um amigo, ou para um familiar. Talvez um pouco mais de empatia. Ou talvez apenas uma simples pergunta. Se o livro instaurar uma simples pergunta como "será que eu posso olhar aquela pessoa com mais respeito? Aquele que é diferente de mim, não merece a mesma dignidade que eu peço para mim mesmo?". Então, se houver esse pequeno movimento, eu acho que o livro já foi muito bem sucedido.

E já temos confirmações de mais versões este ano?

Sim, a edição em inglês foi a vencedora do prêmio nos Estados Unidos. Já temos em italiano, saiu agora em Portugal e em holândes, sairá em breve em eslovaco e em espanhol com uma edição na Argentina.


*Gisberta Salce foi uma mulher trans brasileira brutalmente assassinada, em 2006, por um grupo de 13 adolescentes, na cidade do Porto, norte de Portugal. Foi espancada durante três dias e jogada, ainda viva, dentro de um poço. O caso repercute até hoje e foi responsável pela criação das primeiras leis de proteção às pessoas trans no país.

caroline.ribeiro@dn.pt

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