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Brasileiro Japa System: "Portugal projeta a minha arte para o resto do mundo"
Japa System posa para foto na região de Campolide, em Lisboa. Percussionista está estabelecido na capital portuguesa há três anos. Foto: Leonardo Negrão

Brasileiro Japa System: "Portugal projeta a minha arte para o resto do mundo"

Em entrevista ao DN Brasil, percussionista radicado em Lisboa há três anos conta que a mudança para o país representou uma virada de chave na sua carreira.

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

Em uma das salas do Hotel Dom Pedro, na região de Campolide, com vista privilegiada para a cidade de Lisboa, Antônio Dimas Vieira Aires Júnior, percussionista que utiliza o nome artístico Japa System, relembra com carinho do lugar escolhido para esta entrevista ao DN Brasil.

"Foi aqui neste hotel que eu disse para minha banda (Baiana System) que ía morar em Portugal. Toda vez que passo aqui eu lembro disso", conta Japa, que em 2021, trocou Salvador por Lisboa.

Para o artista, imigrar para Portugal fez sua carreira ter uma virada de chave. Desde que mudou para a capital portuguesa, o percussionista tem investido na carreira solo e, para ele, estar estabelecido por aqui faz com que fique mais próximo do resto do mundo.

"Minha decisão de vir para cá passou, não só por uma procura por uma vida mais calma, mais segura, para mim e para minha família, mas também pela minha projeção artística. Estando na Europa, acaba por ser muito mais acessível você ir para outros lugares, é muito mais fácil te tirarem daqui para ir fazer um show na Indonésia, do que no Brasil. A cena cultural da Europa movimenta o mundo", diz o artista, que, em Salvador, além do Baiana System, também trabalhou por seis anos com o Timbalada.

Japa System no Hotel Dom Pedro. Foi lá que ele disse a Juninho, ex-companheiro de banda, que seu futuro passava por Lisboa. Foto: Leonardo Negrão

Antes de se mudar para Portugal, em 2021, Japa System lançou o seu primeiro álbum solo, Sistema percussivo integrado. Desde que chegou em Lisboa, no final daquele ano, o artista tem investido cada vez mais em shows solo, embora, ao redor da Europa, siga participando de projetos com bandas.

Neste ano, Japa teve seu primeiro grande momento de protagonismo em um palco português, ao tocar no Festival Jardins do Verão, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Para ele, entrar no circuito dos festivais de verão, tão populares por aqui, era uma ambição desde os tempos que ainda vivia no Brasil.

"Eu já tinha feito um show solo por aqui na Musa, de Marvila. Mas esse na Gulbenkian foi especial, até porquê, para mim, quando pensava em Europa e em Portugal, eu pensava nesses festivais. Foi através do Dino (d´Santiago, artista português), que cheguei ali. Tinham me falado que o festival era minha cara e é mesmo: um evento que promove a cultura lusófona, muita presença de países da África, eclético, vários gêneros musicais. Foi demais. E quero muito tocar em outros, Mimo, Paredes de Coura... tem muita coisa bacana", conta Japa, que ganhou este apelido ao passar duas temporadas no país oriental durante a adolescência

Dino d´Santiago, curador do Jardins de Verão se transformou em um parceiro de Japa e gravar uma música com o cantor e compositor de origem cabo-verdiana é um dos próximos desejos do brasileiro. "É o próximo passo, mas Dino não para, né? Mas vamos marcar em breve", afirma.

De Portugal para o mundo

Nos últimos tempos, Japa System tem rodado a Europa e o mundo através de seu trabalho, com as mais diversas criativas perfomances. No Canadá, por exemplo, o artista fez workshops de percussão feitos através de utensílios de cozinha. Uma memória que traz da sua infância.

"Eu faço instrumentos artesanais, produzidos através de utensílios de cozinha. Minha mãe é doceira, é cozinheira, então tive essa influência desde criança, de pegar as panelas, ficar ali batucando, tenho essa intimidade com utensílios de cozinha. E também eu adoro cozinhar, não sou Chef, mas sei uma coisa ou outra", brinca.

Após se apresentar também em show solo no Bali Spirit Festival, Japa tem, na sua agenda para os próximos meses, espetáculos em países como México e Austrália. Segundo o artista, se por um lado Portugal o projeta para tocar nesses outros lugares, por outro seria muito difícil se ele só ficasse por aqui.

"Portugal é bom para viver, mas paga muito mal. Se eu estivesse vivendo da música só com o que faço aqui, já tinha voltado para o Brasil, porquê eu vivo da minha arte. E se Portugal já é um dos salários mais baixos da Europa, imagina como é a remuneração no nosso meio? Mas ainda bem que pude fazer minhas conexões para trabalhar não só aqui. Portugal acabou por projetar minha arte para o mundo", afirma.

Questionado se já havia passado por situações de discriminação em Portugal, seja de racismo ou xenofobia, Japa diz nunca ter sido alvo direto de um ataque. Isso não significa, no entanto, que não considere o tema como um problema presente no cotidiano português.

"Não precisa acontecer comigo para sentir, até porque atualmente é algo que está muito explícito. Vejo, por vezes, um tratamento diferente com brasileiros ou imigrantes de outros países, e claro que sinto quando presencio. Diretamente comigo, não aconteceu, mas, se acontecer, espero estar preparado para poder resolver da melhor maneira possível, com educação e sem perder a razão", pontua.

Prestes a completar três anos no país, Japa se diz realizado e fala com orgulho da decisão que tomou ao se mudar para Portugal. Segundo o percussionista, na época que informou aos mais próximos sobre a mudança, ouviu que podia estar tomando uma decisão arriscada por deixar as bandas nas quais participava.

"Eu sinto tesão por desafio. Nunca gostei de ficar muito tempo em só projeto, em um só lugar, uma só banda. Sempre senti que eu tinha capacidade de construir a minha nave, de levantar vôos através dos meus comandos percussivos. E nunca tive medo. E aí, com muito planejamento, deu certo a mudança para cá".

Esse desejo de mudar constante na vida de Japa System faz com que Portugal possa ser apenas o primeiro dos lugares que o artista pode viver na Europa.

"Tem muita coisa boa por aqui: Londres, Barcelona, Paris, Berlim... tenho viajado muito e sentido isso, que eu consigo viver em qualquer desses outros países  que eu já visitei. Até pra aprender outras línguas, outras culturas, isso tudo vai engradecer o seu o seu currículo, a sua vida e o seu conhecimento. Mas só consigo ter todo esse contato com outros países por estar aqui. só tenho a agradecer a tudo que Portugal e a Europa me proporcionam", finaliza Japa.

nuno.tibirica@dn.pt

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