Brasileiros enfrentam demora e prejuízos em pedidos de visto nos consulados
O DN Brasil questionou o ministério sobre a demora nos pedidos de vistos nos Brasil, mas não teve resposta.
Texto: Amanda Lima
No dia 21 de maio deste ano, o brasileiro Maicon (nome fictício) desembarcou em Portugal para iniciar uma nova vida. O plano era pedir o título de residência através da manifestação de interesse, mecanismo legal que era o mais utilizado por imigrantes no país. Pouco mais de 10 dias depois, o Governo acabou com esta possibilidade, frustrando os planos do brasileiro. Ele não pensou duas vezes: voltou ao Brasil para pedir o visto de procura de trabalho e continuar com o sonho planejado de trabalhar em Portugal.
Em julho, reunidos documentos e valores em dinheiro, deu entrada na solicitação no Consulado de Portugal em Salvador. Com todas as exigências em dia, pensou que mais nada frustraria seus planos. Mas estava errado: com passagem comprada para o início de novembro, não há nenhuma resposta ao pedido, sem ter um retorno dos e-mails e ligações telefônicas. “É um descaso total. Terei que adiar e remarcar para uma data posterior, sem ter a certeza que será resolvido”, conta ao DN Brasil.
O imigrante está em contato com outras pessoas que fizeram o pedido de visto, “todas na mesma situação”. Além da falta de respostas, há um clima de medo, o que faz com que peçam sempre para ter a identidade protegida ao falar com o jornal. “Não tentei ir pessoalmente porque podem sentir provocados e afrontados, podendo assim prejudicar ainda mais a vida daqueles que precisam de uma resposta”, destaca.
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Segundo o brasileiro, a demora “tem gerado um enorme impacto em várias famílias, que precisam remarcar voos, arcar com custos adicionais de logística e, consequentemente, enfrentam grandes dificuldades no andamento de suas vida”.
O Consulado de Salvador não é o único alvo destas reclamações. Em Recife, a situação é a mesma. Outro brasileiro ouvido pelo DN Brasil, também sob condição de anônimato, teve a passagem remarcada duas vezes na espera pela resposta do consulado. No início de junho, deu entrada nos documentos, junto com a esposa. Ambos pediram o visto de procura de trabalho. Quatro meses depois, nada foi respondido, deixando assim os planos suspensos.
Ele foi oito vezes ao local, sempre chegando às 5h30 da manhã para conseguir uma das 20 únicas fichas disponibilizadas por dia. O esforço não resultou: no fim de outubro, data da segunda remarcação da passagem, seguiu sem respostas para o brasileiro. O que “salvou” a viagem foi a aprovação do visto da esposa na última hora, literalmente.
Agora, já em Portugal, trocou a fila do consulado pela fila da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA) em busca do reagrupamento familiar, que tem direito - mas não há vagas. “Estou analisando pela via judicial. Em último caso, voltar ao Brasil para colar o visto quando sair e vir de volta”, explica ao DN Brasil. Todas as opções envolvem mais gastos financeiros. “E eu escolhi o visto de procura de trabalho por ser a forma legal e correta de se imigrar e que me proporcionaria mais facilidades”, desabafa o brasileiro.
Com a manifestação de interesse e sem ainda a possibilidade de pedir o visto da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o visto é a única maneira de mudar para Portugal, além de ser a forma que o Governo quer encorajar. Foi anunciado o reforço nos postos consulares, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) não responde se a medida avançou. O DN Brasil também questionou o ministério sobre a demora nos pedidos de vistos nos Brasil, mas não teve resposta.
amanda.lima@dn.pt
Este texto está na edição impressa desta segunda-feira (28), do Diário de Notícias, na seção DN Brasil.