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Autor brasileiro lança em Lisboa obra que debate diáspora e racismo
Ubiratan Muarrek com o seu novo livro Meio do Céu. Foto: Gerardo Santos

Autor brasileiro lança em Lisboa obra que debate diáspora e racismo

Em entrevista ao DN Brasil, Ubiratan Muarrek fala sobre sua nova obra "Meio do Céu", que tem como temática a diáspora brasileira e o racismo.

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

A peça tragicômica Meio do Céu, do escritor paulista Ubiratan Muarrek, 58, chega às livrarias portuguesas na próxima semana. Livro que aborda questões como a diáspora brasileira espalhada pelo mundo e o racismo, a obra de Muarrek promete pôr o "dedo na ferida", como revela o próprio em entrevista ao DN Brasil. "Me falaram que tinha que ter coragem para publicar essa obra: realmente, tive muitas noites sem dormir por causa desse livro", relata Ubiratan.

Chegando a Portugal através da consagrada editora Assírio Alvim, que tem apostado no intercâmbio entre autores portugueses e brasileiros, Meio do Céu traz uma história que decorre em Londres no dia 25 de julho de 2000. Foi naquele dia que o emblemático avião Concorde, voo 4590, explodiu no ar matando mais de 100 passageiros. Na mesma hora do acidente, duas imigrantes brasileiras, uma branca e uma negra, vindas de um Recife assombrado pela escravidão, se encontram e travam um embate sobre acontecimentos que marcaram as suas vidas.

Segundo o autor, sua obra segue uma linha tragicômica a partir de trabalhos como os do russo Anton Tchekhov, do britânico Harold Pinter e com toques do recifense Ariano Suassuna. Curiosamente ou não, o dramaturgo era conterrâneo de Sofitel e Greta, as protagonistas do livro que debatem o racismo vivido na região que cresceram.

"O livro toca em questões muito sensíveis, desse patriarcado reacionário brasileiro, questões de raça. Ele é um drama racial. São pretos e brancos, recifenses, em Londres", conta Ubiratan, que viveu na capital inglesa, onde estudou comunicação.

Formado em Direito, mas também jornalista, produtor, publicitário, dramatugo e professor durante sua vida, Ubiratan sempre teve na cabeça a ideia clara de ser escritor. Morou em cidades desde Brasília até Bolonha e diz ter passado por todos esses caminhos da vida para formar o senso que tem hoje e poder a exercer a profissão que sempre desejou e na qual diz se "sentir livre". "O único jeito de você ser escritor é se você sentir liberdade para isso: eu defendo muito meu espaço de liberdade literária", afirma.

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Muarrek estreou na literatura com Corrida do Membro (Objetiva, 2007), e, quase dez anos depois, publicou Um Nazista em Copacabana (Rocco, 2016), que esteve entre os semifinalistas do Prêmio Oceanos de 2017. Embora afirme que tenha se "soltado completamente", especialmente no primeiro livro, ressalta a ideia da liberdade e da coragem que é preciso ter para tocar em alguns pontos, como o caso de Meio do Céu.

Para o autor, em uma sociedade extremamente polarizada, obras como essa podem desagradar a gregos e troianos,: primeiro pela denúncia do racismo. Segundo, por ser um branco a fazê-la.

"Agora o debate está contaminado pelo lugar de fala. Ocorrem boicotes, a mesma violência usada pelo bolsonarismo também usada pelo outro lado. Usam a mesma violência que criticam e que é a que, de fato, tira o lugar deles", dispara Ubiratan, que explica de onde surge uma narrativa que gira a volta de personagens nordestinos e do racismo:

"Toda construção social que fez o Brasil virar o que é hoje é consequência do racismo. Como diria o pernambucano Joaquim Nabuco: o Brasil teve 300 anos de escravidão vai precisar de mais 300 para consertar a obra da escravidão", pontua o autor que indaga qual o Meio do Céu desta construção.

Editora portuguesa estreita relações com Brasil

O lançamento da obra de Ubiratan Muarrek em Portugal faz parte de um plano da editora Assírio Alvim para estreitar as pontes literárias entre os dois países. Já com livros de autores portugueses lançados no Brasil nos últimos anos, a editora começa agora a fazer o caminho contrário, trazendo escritores brasileiros para Portugal.

Para Ubiratan, uma iniciativa que não só é importante, como a necessária. "Tem que ter essa integração. Foi uma operação da Assírio como o Diário de Notícias fez com o DN Brasil. Essa ponte tem que ser mais próxima: a cultura e especialmente a língua, que é a mesma. Até para dar um frescor. Estou estreiando um pouco esse caminho de volta da editora, que já tem dado os primeiros passos no Brasil", revela.

O lançamento de Meio do Céu está marcado para a próxima terça-feira (26), Às 19h, em evento que ocorre na Livraria da Travessa, na região do Príncipe Real, em Lisboa. Muarrek participará de uma mesa com o dramaturgo e ensaísta brasileiro radicado em Portugal Ruy Filho.

A conversa abordará a dramaturgia brasileira na atualidade e a diáspora de brasileiros, tema também presente na mais recente obra do autor. Após a mesa, haverá uma sessão de autógrafos.

nuno.tibirica@dn.pt

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