Saiba principais diferenças das festas juninas do Brasil e Portugal
Estilo musical, comidas, bebidas e a época do ano são algumas das diferenças. Em comum, a alegria especial do mês de junho e suas festas.
Texto: Nuno Tibiriçá
O DN Brasil já explicou o que são os Santos Populares. Chegou a hora de entender quais as principais diferenças entre as celebrações em Portugal e as festas juninas no Brasil. A primeira de todas pode parecer um pouco óbvia, mas faz alguns costumes serem diferentes: o clima. Embora muitas regiões do Brasil tenham o calor como uma realidade da rotina quase todos os dias do ano, nas regiões sul e sudeste do país a festa junina é sinônimo de frio. Para os portugueses, festas de Santo Antônio, São João ou São Pedro com frio é quase tão estranho quanto imaginar o natal com calor: diferenças culturais.
Em Portugal, os Santos Populares celebram a chegada do verão, e como tal, a primeira diferença flagrante é nas principais bebidas. No Brasil, há o hábito de beber quentão, uma bebida quente feita com cachaça ou vinho tinto e especiarias para aquecer a noite ao lado de uma fogueira na época das festas juninas. Em Portugal, as festas combinam mais com imperiais (chopps) bem fresquinhas e vinho branco ou verde nas noites de arraial. A tradicional ginjinha (licor de cereja) e a sangria (coquetel de vinho, soda e frutas) também costuma ser boa pedida.
Já a comida dos Santos Populares gira muito à volta da grelha e, especialmente, de um suspeito de costume: a sardinha. Iguaria pouco aproveitada no Brasil muito em função da alta temperatura da água do mar, as sardinhas tem o seu auge da temporada em Portugal entre maio e setembro. Nos anos 1960, as sardinhas começaram a ser comercializadas nas barracas de comida dos santos e rapidamente se transformaram num dos símbolos das festividades, tendo até bandeirinhas juninas na forma do pequeno peixe em alguns arraiais.
Além da sardinha - sempre no pão - os Santos Populares oferecem como principais refeições grelhados oriundos do porco: chouriço, febras (tiras finas do lombo) e entremeadas (barriga) são alguns dos mais encontrados, assim como as bifanas (carne marinada com especiarias servido no pão com mostarda e molho de pimenta) e o caldo verde com chouriço para abrir o apetite. Nas sobremesas, churros com e sem recheio (conhecidos como farturas), queijadas e travesseiros (folhado com base de amêndoa, gema de ovo e açúcar), são dos mais conhecidos.
Com uma dimensão continental, no Brasil, a cultura gastronômica das festas juninas varia muito de cada região. No sudeste é comum encontrar milho verde, cachorro-quente, espetinho de carne, pão de queijo e sanduíche de pernil. No nordeste, a presença de cuscuz, pratos com carne de sol e baião de dois (mexido de arroz e feijão) é garantida. No norte, a mandioca é uma das bases dos pratos juninos, como tacacá (caldo), e no sul há a tradição do arroz de carreteiro (com carne-seca), pinhão e pamonha.
Uma coisa é consenso entre as regiões: os doces. Arroz doce, canjica, paçoca, pé-de-moleque e maçã do amor, além dos mais diversos bolos, são alguns dos acepipes que marcam presença em quase todos os cantos do Brasil na época das festas juninas.
Outro ponto importante que difere entre as festas juninas dos dois países é o gênero musical. Enquanto no Brasil é comum o gemido das sanfonas ao ritmo do forró ou do sertanejo nas celebrações juninas, Portugal tem como principal gênero musical dos Santos Populares o pimba. O pimba é um gênero de uma música popular portuguesa que pode ser considerada uma espécie de música brega. O pimba tem duas variantes opostas: existem músicas de duplo sentido, eternizadas por artistas como Quim Barreiros, e outras - muito - literais, como as do cantor Toy. Nas duas modalidades, o gênero é feito para “bailaricos” e danças a dois.
As danças não diferem muito entre si, afinal, a quadrilha (dança tradicional dos arraiais no Brasil), chegou ao país por influência da corte portuguesa no século XIX: balancês e túneis são cenas comuns nos arraiais portugueses, embora as frases populares como “olha a cobra” ou “olha a chuva” não apareçam no caminho da roça português. A roupa quadriculada e homens com chapéu de palha também se tornaram tradições tipicamente caipiras e sertanejas no Brasil, e são pouco vistas em Portugal - a não ser nas festas juninas organizadas pela comunidade brasileira, claro.
Por fim, Portugal tem alguns símbolos típicos dos Santos Populares que parecem no mínimo curiosos aos olhos dos brasileiros que presenciam as festividades. O primeiro são os manjericos (espécie de manjericão-anão, não os usados na culinária) de Santo Antônio. A tradição conta que os manjericos devem ser oferecidos em vasos de barro entre os casais de forma a cultivar o relacionamento. O desafio é manter os manjericos vivos até a comemoração do ano seguinte, quando outro vaso é oferecido.
Outro símbolo importante - este característico das festas de São João - são os martelinhos. Tradição que, assim como as sardinhas, chegou aos santos nos anos 1960, os martelinhos surgiram num primeiro momento para serem brinquedos para as crianças, criados pelo fabricante Manuel António Boaventura. Posteriormente, um grupo de estudantes universitários do Porto pediu a Boaventura um instrumento que fizesse barulho para a Queima das Fitas (festa de formatura) e o sucesso do ruído dos martelinhos foi levado para as festas de São João - tradição nas celebrações até hoje.
Seja no Brasil ou em Portugal, o mês de junho é pura folia e diversão.
nuno.tibirica@globalmediagroup.pt