Camila Senna posa para foto com seus quadros.
Camila Senna posa para foto com seus quadros.DR

Artista visual brasileira transforma ateliê no Porto em espaço para pessoas explorarem a criatividade

Em Portugal há quase cinco anos, Camila Senna aposta em workshops e eventos para integrar imigrantes e locais através da arte.
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A carioca Camila Senna, assim como tantos outros brasileiros e brasileiras que vivem em Portugal, foi mais daqueles casos que viu, durante a pandemia da Covid-19, a possibilidade de uma mudança na vida. Formada em Design de Produto no Brasil, ela levava anos de carreira na moda, quando, em meio ao confinamento, quando morava na Irlanda, começou a se dedicar mais a sua faceta artística. Poucos meses depois, ela se mudou para o Porto, cidade na qual acabou por inaugurar seu primeiro ateliê, onde hoje é um espaço para encontros e workshops para pessoas de diferentes nacionalidades que querem explorar a criatividade.

“Acho que a pandemia foi um momento que muita gente repensou a vida e eu acabei por ficar quase que 100% focada em pintar quadros, foi um período que eu voltei a me conectar com essa parte artística em mim. Foi nessa época que surgiu a oportunidade de vir para Portugal, em princípio para passar dois meses, mas gostei tanto que acabei ficando”, conta em entrevista ao DN Brasil a artista visual e designer que identifica no seu trabalho um “DNA muito tropical”. 

Num primeiro momento, Camila fazia a vida em Portugal com os trabalhos de freelance para o Brasil. Trabalhando sempre de casa, ela encontrou um espaço no Porto na qual poderia unir o útil ao agradável: ter um lugar para trabalhar nos serviços que prestava para o Brasil e outro para se dedicar e expor sua arte - além dos quadros, foi também nessa época que a carioca começou a trabalhar com cerâmica. 

“No início, foi muito engraçado, porque eu amei o espaço, achei incrível e o preço estava muito bom, muito diferente dos alugueis que hoje em dia a gente vê por aí. Mas fiquei com muito medo de dar um passo maior que a perna. Dá sempre uma insegurança”, relembra Camila, que resolveu, então, pensar em uma forma de garantir que o espaço fosse financeiramente sustentável.

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Após construir o seu escritório no local, onde faz seus trabalhos de freelancer para empresas brasileiras e portuguesas, ela resolveu criar um evento para chamar atenção das pessoas para o seu espaço. “Construí o escritório em uma parte e um espaço na frente para colocar minhas peças de cerâmica e meus quadros à venda. Só que o local não fica no centro do Porto, não é um lugar de muita passagem, então pensei em outra forma de rentabilizar o lugar. Criei um evento, que na verdade se chama Drink and Draw, que existe no mundo inteiro e resolvi adaptar da minha forma”, conta.

Camila então, começou a realizar encontros no seu ateliê, nos quais explora dinâmicas de grupo através de uma experiência diferente de aprendizado com workshops que promovem contatos com novas pessoas, algo que considerava existir pouco no Porto. “Quis trazer algo diferente, que não tinha na cidade, para as pessoas se divertirem, ser uma experiência para conhecer outras pessoas, beber, comer, fazer amizades. E também uma forma de conhecerem meu trabalho”, diz a carioca. 

Deu certo. Camila conta que os encontros passaram a chamar pessoas de diferentes nacionalidades e quase sempre o Drink and Draw realizado no seu ateliê esgotou as vagas. “Aquele medo inicial que tive, de não conseguir pagar as contas, ficou para trás. Tem corrido muito bem, tenho recebido pedidos para grupos privados, de empresas grandes que nunca esperava que fossem entrar em contato comigo”, ressalta Camila, que inicialmente fazia o encontro semanalmente. 

Para a artista e designer, o espaço traduz também uma necessidade que ela mesmo sentiu ao chegar no país. Segundo Camila, o seu ateliê e os eventos que tornaram o espaço num lugar de convívio foi uma forma também de oferecer uma integração em Portugal. “A dificuldade do imigrante em outro país é justamente essa, ninguém te conhece. Então você tem que construir basicamente tudo do zero. Para mim era muito mais fácil na minha bolha do Rio de Janeiro, no mercado de moda, que eu tinha muitos contatos e que eu poderia facilmente trabalhar em várias marcas. Em Portugal não. Então acabou por ser uma forma de atrair as pessoas para o meu espaço de trabalho”, pontua.

Hoje em dia, Camilla já reúne mais de 4000 seguidores na página do Instagram de seu atelier, onde revela receber, além de portugueses, gente da Inglaterra, Alemanha, Ucrânia ou outras tantas nacionalidades. A mobilização em torno do seu ateliê inclusive fez Camila ser lembrada pela Bloom Flores e Eventos a participar de campanha dos Dia dos Namorados neste ano, com peças de cerâmica inspiradas em figuras humanas pintadas à mão.

Com um percurso de sucesso na terrinha até agora, Camila ambiciona que sua arte e trabalho cresçam cada vez mais. “É como uma sementinha: você vai plantando e um dia você vai colher. Eu ainda não cheguei onde eu gostaria de chegar, mas acredito que  estou caminhando para isso: plantando, fazendo o meu trabalho da maneira que eu acredito, gostando do que eu faço, um dia, com certeza, eu vou chegar lá”, finaliza a artista.

nuno.tibirica@dn.pt

O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.

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