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Artista brasileira domina as noites de fado em Lisboa
Fernanda se apaixonou pela guitarra portuguesa ao primeiro acorde. Foto: DR

Artista brasileira domina as noites de fado em Lisboa

A brasileira apaixonou-se pela guitarra portuguesa, instrumento que dominou no nível do virtuosismo, ainda no Brasil.

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por DN Brasil

Texto: Gisele Rech

A esquina entre a rua do Diário de Notícias e a Travessa da Espera, no coração vibrante do Bairro Alto de Lisboa, Brasil e Portugal encontram-se nos sons da carioca Fernanda Maciel. A brasileira apaixonou-se pela guitarra portuguesa, instrumento que dominou no nível do virtuosismo, ainda no Brasil. “Vivia no Rio e me encantei com aquela música”, diz Fernanda. “Perguntei aos meus pais o que era e eles me disseram: é o fado”. Quando toma de seu instrumento para tocar na Tasca do Chico, ponto de referência da música portuguesa no bairro, é possível ver a tatuagem em seu braço: “Portugal, Meu Amor”. 

“Achei o fado muito interessante, muito diferente. Ouvia os contracantos, a guitarra portuguesa a dar o tom e comecei a observar algumas semelhanças com a música brasileira, com o choro”, relembra. O sentimento e as harmonias são semelhantes, embora o instrumento português tenha pouco a ver com o violão brasileiro. “Do corpo do instrumento ao número de cordas, do jeito que toca ao som que produz, é totalmente diferente”, explica.

Na rua da Tasca do Chico, onde Fernanda  apresenta-se habitualmente, há um varal com bandeiras de vários países, como de Brasil e Portugal. A imagem é representativa do Portugal atual, país que atrai imigrantes de vários países - e essa mescla de culturas é extremamente enriquecedora.  

A imigrante, neta de um açoriano, descobriu o fado há 10 anos, em meio a uma crise profissional. Havia acabado de concluir o bacharelado em Música pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e decidido mudar de área de atuação: resolveu  tornar -se fotógrafa. A uma certa altura, uma tia da brasileira viajou a Portugal e levou como presente uma guitarra portuguesa. Ao abraçar o instrumento pela primeira vez, foi paixão ao primeiro toque - ou acorde.  

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“Comecei a ouvir mais fados, as guitarradas. Até hoje acho incrível como o instrumento é tocado e os ornamentos que o cercam. Os gemidos, os trinados. É tudo incrível. Comecei a me apaixonar pela guitarra portuguesa e ouvir cada vez mais artistas”, pontua.

Como um bom romance não pode ser vivido à distância, Fernanda decidiu se aproximar ainda mais do instrumento e do fado e partiu para o Mestrado em Etnomusicologia, na Universidade NOVA de Lisboa.  A artista mudou -se para Portugal em agosto de 2016. “Uma forma incrível de entender o gênero é entrar dentro dele. E foi isso que eu busquei fazer enquanto estudava”, destaca.

Ao tomar aulas no Museu do Fado, Fernanda virou pupila de António Parreira, que se encantou com o talento musical da jovem. “Ele começou a me levar nas coletividades, que comparo aos clubes de choro do Brasil. Eu ia às tardes de fado, tocando e aprendendo repertório. Acabei por não concluir meu mestrado”, conta.

A presença nas rodas de fado acabou lhe rendendo convites para tocar na noite. Em 2022, veio o chamado para apresentar-se na Tasca do Chico, onde toca, entre outros fadistas, o cantor português João Carlos. O fadista gosta tanto das coisas do Brasil que canta até Roberto Carlos no compasso binário do fado. Como Roberto Carlos, por sinal, prefere ser chamado apenas por seu nome de batismo, que o fez famoso nas noites lisboetas.  

Fernanda tornou-se figura conhecida no circuito do fado vadio, onde amadores ou profissionais podem se apresentar mediante inscrição, sem remuneração, mas com muitos aplausos como recompensa. “É  nessa hora, sem ensaios, que o improviso da guitarra portuguesa se faz ainda mais presente. É preciso sentir o ritmo do fadista”, ensina Fernanda. Além das Tasca do Chico, a brasileira apresenta-se na Morgadinha da Alfama, entre outros espaços. 

Trânsito livre 

O trânsito livre no meio fadista teve o auxílio do seu mestre António Parreira, que, desde o início, a fez sentir-se acolhida. “Como em qualquer lugar, às vezes tem alguém que não vai gostar da tua presença, de ser mulher ou brasileira. Nem todo mundo é simpático, mas é raro achar alguém que não seja”, diz. De fato, o simples testemunho do bate-papo com os colegas de palco antes do início do show e o breve ensaio do repertório da noite ao lado do parceiro fadista João Carlos, já comprovam o quanto Fernanda é querida e valorizada.  

A artista dá aulas de guitarra portuguesa na Academia de Música de Almada. Há muitas cantoras de fado em Portugal, mas a guitarra portuguesa é ainda um reduto masculino. Fernanda foi a segunda a romper essa tradição em Lisboa e isso a pôs em dois coletivos formados só por mulheres: As Mariquinhas  e Amara Quartet. Na agenda, ainda encontra tempo para participar de eventos como o Festival Santa Casa da Alfama, onde representou a Tasca do Chico em 2022. Ou mesmo para alargar as esquinas do mundo no 11º Festival Internacional de Guitarra Clássica, em Calcutá, em um breve diálogo com o seu violão de origem. Mas, sem dúvida, foi apenas uma licença poética. Afinal, o caso de amor de Fernanda é com o instrumento de cordas na versão lusa.

Este texto está na edição impressa do DN Brasil desta segunda-feira (4), junto com o Diário de Notícias.

dnbrasil@dn.pt

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