Tabet faz apresentações em cinco cidades portuguesas.
Tabet faz apresentações em cinco cidades portuguesas.DR

Antonio Tabet. “Sou mais reconhecido em Portugal do que no Brasil”

Em entrevista ao DN Brasil, ator fala sobre a adaptação de 'Peçanha' ao teatro, sua relação com o país e discute humor, política e cultura do cancelamento.
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Antonio Tabet é considerado um dos principais nomes do humor brasileiro. Faz parte dos pioneiros da arte no formato de internet, através do Porta dos Fundos e do seu canal Kibe Louco, o carioca de 51 anos tornou-se conhecido especialmente por dar vida ao Sargento Peçanha. O personagem, de um ano para cá, ganhou espaço nos palcos de teatro do Brasil. Agora, em novembro, Tabet se prepara para trazer o caricato policial que interpreta também para Portugal com a peça Peçanha - Protocolo de Segurança, que estreia no Estoril no próximo dia 14.

"Eu não considero uma transição, e sim uma adaptação, porque continuo fazendo filme, série, novela", diz ao DN Brasil sobre sua estreia nos palcos. "Apesar de ter feito cursos de teatro e atuar, eu não me imaginava vivendo de teatro em algum momento da minha vida, porque só de pensar em fazer a mesma coisa de quinta a domingo, o mesmo texto, mesma rotina isso me dava uma certa paura", conta o ator que, com a recente experiência no teatro, viu que estar nos palcos está longe de ser um tédio.

Antes focado no conteúdo audiovisual, Tabet se deparou com muito maior dinâmica que esperava nas apresentações da peça. "Descobri que não existe esse tédio de fazer a mesma coisa de quinta a domingo. Muda tudo: muda a plateia, muda o tempo. É muito curioso como um espetáculo, mesmo sendo o mesmo texto, com algumas folgas para improvisação, muda nem só de cidade para cidade, mas também de sessão para sessão. Às vezes eu estou no mesmo dia fazendo duas sessões no mesmo teatro e uma plateia é de um jeito, a outra, duas horas depois, é de outro. Assim a peça fica diferente: isso me tirou o receio que eu tinha antes", revela.

Além do Estoril, o espetáculo passa por Leiria (19), Porto (20), Guimarães (21) e Lisboa (26) e terá algumas adaptações, embora, para o ator, exista uma proximidade muito grande entre os dois países. "A relação de Brasil e Portugal é próxima desde sempre. Eu não vejo como ‘outra cultura’; vejo como se Portugal fosse o braço do Brasil e o Brasil fosse o braço de Portugal", diz Tabet, orgulhoso pelo reconhecimento que tem na terrinha.

"O Porta dos Fundos fez muito sucesso em Portugal. Eu sou muito felizardo por ter escrito e protagonizado algumas das sketches que fizeram muito sucesso aí, como o gorilão da bola azul, por exemplo. Da última vez que fui fiquei impressionado, percebi que, andando na rua, sou mais reconhecido em Portugal do que no Brasil", afirma.

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Embora mantenha a estrutura da peça para o público português, leves contextos de Protocolo de Segurança terão que ser alterados. Um deles é nas partes em que o personagem referência ao antigo prefeito do Rio de Janeiro, bispo Marcelo Crivella (Republicanos), que, nas cinco apresentações em Portugal, será possivelmente outro político.

"É óbvio que o público português não sabe, por exemplo, quem é o Crivella - apesar de alguns brasileiros que vivem em Portugal saberem. Aí nesse caso provavelmente eu vou falar do André Ventura, que é uma figura conhecida não só pelos portugueses, mas obviamente pelos brasileiros que estão aí também", explica. "Mas claro que é uma peça muito brasileira, é um policial no Rio de Janeiro apresentando um espetáculo. Ela é muito brasileira, mas fala de um sentimento de hipocrisia e de politicamente correto, e bate um pouco na cultura ‘woke’, que é um fenômeno mundial. Vai ser curioso ver isso em outro país", sublinha.

Esta curiosidade de Tabet em relação ao público português recai justo sobre o tema que tem gerado controvérsias no Brasil e por aqui nos últimos tempos: com a questão do "limite do humor", tomando conta do debate, os termos "politicamente correto" e a "cultura do cancelamento" despertam discussões proporcionais às respectivas complexidades.

"O politicamente correto é positivo como ferramenta pra gente evoluir como sociedade. Nos anos 80, quando eu cresci, fazer piadas racistas não só era comum como era incentivado, você ligava a TV aberta e tinha esse tipo de coisa. O politicamente correto entra para dosar isso, educar a sociedade, melhorar a gente como cidadão", entende o humorista, que vê na internet, alguns pontos do limite do humor confundirem-se. "O problema é que as redes sociais, com todo mundo virando editor de si mesmo, fizeram crescer a vaidade. Todo mundo quis virar promotor, juiz e carrasco e aí entra a cultura do cancelamento", reflete o ator.

Entre a gargalhada e o desconforto, Antonio Tabet traz a Portugal este personagem que cutuca o “politicamente correto” sem pedir licença. O teste agora é diante de um público que, como diz o próprio, conhece Peçanha ainda mais do que a plateia brasileira.

nuno.tibirica@dn.pt

O DN Brasil é uma seção do Diário de Notícias dedicada à comunidade brasileira que vive ou pretende viver em Portugal. Os textos são escritos em português do Brasil.
Este texto está publicado na edição impressa do Diário de Notícias desta segunda-feira, 3 de novembro de 2025.
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Antonio Tabet estreia nos palcos portugueses com espetáculo do personagem Peçanha
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