Água de coco do Brasil em Portugal? Esta dupla de empresários quer "tropicalizar as praias"
A cada 30 ou 40 dias chega um contentor com 10,5 mil unidades de coco, vindas diretamente de Pernambuco e Bahia.
Texto: Amanda Lima
Quem passa por alguns pontos das praias de Oeiras se depara com algo que pode parecer uma miragem, ainda mais em dias de calor escaldante no verão português: uma barraca que vende coco verde, igual aos que muitos pensam quando imaginam uma praia tropical - com direito a um guarda-chuva colorido. É o empreendimento do brasileiro Ivan Lima, 43 anos, e da portuguesa Margarida Matos, de 24 anos, a Kocoalot.
A dupla se conheceu em 2021, quando trabalhavam juntos como funcionários de um restaurante. Ivan tem uma história como a de muitos imigrantes: empreendedor no Brasil, veio para Portugal por insistência de um amigo e teve diversos trabalhos, desde entregador de Uber Eats até em restaurante, mas a veia de empreendedor sempre esteve ali. “Eu comecei com 12 anos, vendendo sacolé no Rio de Janeiro”, conta ao DN Brasil.
Margarida estava insatisfeita com o trabalho que tinha na época, quando decidiu se juntar ao brasileiro e apostar no negócio de venda de coco, um produto complexo para importar e armazenar. “Contratamos um despachante especializado para tratar, dá muito trabalho”, explica a empreendedora.
Eles já chegaram a vender coco da Tailândia, relativamente popular em Portugal e mais barato que o brasileiro, mas garantem: não é a mesma coisa. “Não tem nada a ver a qualidade e o sabor”, atesta o carioca. A opinião é pessoal e foi constatada pelo brasileiro ao conversar com os clientes, que preferem o produto vindo do Brasil. “Depois que trouxemos o brasileiro, nem teve como voltar, é o que as pessoas querem”, explica Ivan.
A cada 30 ou 40 dias chega um contentor com 10,5 mil unidades, vindas diretamente de Pernambuco e Bahia. O produto é vendido em três pontos comerciais da Kocoalot, na praia de Caxias, em Oeiras, em Paço De Arcos, também em Oeiras, e, mais recentemente, na Casa da Guia, em Cascais. “Está sendo um sucesso”, atesta a dupla.
Além dos pontos de venda próprios, também há a revenda de coco para restaurantes em Lisboa e na margem sul, como na Costa da Caparica. “Queremos tropicalizar as praias de Portugal”, brinca Margarida, que já morou no Brasil quando era criança e possui afinidade com a cultura brasileira.
“Uma cliente chorou”
A água de coco, para muitos brasileiros, é, literalmente, sabor de casa. Para Ivan, como imigrante, a questão era óbvia - entende o sentimento. Margarida também passou a entender do que se trata ao ver reação dos clientes. “Uma senhora veio aqui e começou a chorar quando estava a beber água de coco. E eu pensei, será que a água de coco está azeda? Não está a sentir-se bem? Mas não, ela não via os filhos há três anos e a água de coco a fez lembrar de casa”, recorda a empresária. “Nesse momento, mudou tudo para mim”, complementa.
As reações, especialmente entre brasileiros, são de fechar os olhos para apreciar o sabor familiar, muitas vezes esquecidos. Entre os turistas, é o sabor do novo, assim como para muitos portugueses. “Todos gostam, temos todos os tipos de clientes e nossos vendedores são muito bons”, explica Ivan. Atualmente são cinco profissionais, quatro brasileiros e um de Guiné Bissau.
Com três pontos de venda fixos neste verão, o objetivo é duplicar no próximo ano. Criar uma franquia também está nos planos da dupla, que, além de sócios, são um casal. “Tínhamos nas nossas metas pessoais tudo que está a acontecer neste ano”, relata Margarida.
Foram meses de preparação, burocracia e pedidos de licenças para ter as barracas de venda do produto. Os brasileiros em Portugal se perguntam muito: “Porque não vende como ambulante na praia?”. A ideia estava nos planos da Kocoalot, mas é impossível em Portugal. “O que nos disseram é que não há contentores na praia para o lixo que vai gerar”, argumenta a empreendedora, que não quer desistir da ideia.
Sustentabilidade
Margarida já tem um plano para resolver o problema e concretizar o seu sonho e de muitos brasileiros em Portugal: criar contentores eletrônicos que cortem a fruta. O passo seguinte será levar para indústrias que possam transformar em outros produtos, como já ocorre em muitos locais. “É um plano bem para o futuro, mas que não vamos abrir mão, porque é um princípio de sustentabilidade, algo muito importante para nossa economia”, destaca a empreendedora.
“Nós acreditamos que, daqui a uns anos, só empresas que se preocupem com o ambiente é que efetivamente vão estar no mercado”, pontua Ivan. Os sócios também estão pensando em maneiras de diminuir o preço final para o consumidor, atualmente de 7 euros, mas explicam o valor do produto. “O que nós explicamos para as pessoas é que é um produto muito caro, importado, pagamos imposto duas vezes, aqui e lá, com condições específicas de armazenamento refrigerado”, argumenta o imigrante.
A dupla acaba de comprar um ponto de venda na Casa da Guia, onde vai funcionar também a venda de mais produtos brasileiros, como o caldo de cana. “Queremos crescer e criar mais postos de trabalho, estamos a seguir os nossos sonhos”, pontua Margarida, que já pensa no futuro - o casal tem um filho de dois anos. “Estamos a trabalhar muito, 100% focados, a preparar o futuro dos nossos filhos, dar um patrimônio para eles, se reformar cedo e aproveitar a vida”, finaliza a jovem empresária.
amanda.lima@dn.pt