A 1ª oficina de roda de samba da Europa nasceu em Lisboa: conheça a Patú Sambá
Diogo Presuntinho, percussionista mineiro, comanda as aulas do grupo, que reúne alunos de oito nacionalidades. A nossa jornalista Caroline Ribeiro não resistiu: terminou a reportagem tocando pandeiro junto.
Texto: Caroline Ribeiro
Quarta-feira, 19h. Meio da semana, horário de trânsito complicado. O cansaço pesa, mas basta botar o pé na sala do Universo Percussivo, no Clube Oriental de Lisboa, em Marvila, para que a gente receba uma potente dose de energia. É aqui que acontecem, duas vezes por semana, as aulas da Patú Sambá, a primeira oficina de roda de samba da Europa.
O criador do projeto é Diogo Presuntinho, músico mineiro que há um ano e meio vive em Portugal. O apelido vem desde criança, quando Diogo começou as aulas de Capoeira. O "Presuntinho" substituiu o sobrenome oficial, Oliveira, no contexto artístico. "Aqui, tem quem me chame agora de Fiambrinho, Little Ham, Jamoncito", conta, sempre com um sorriso no rosto, fazendo alusão às diferentes línguas nativas de quem participa da oficina.
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A Patú Sambá reúne alunos de oito nacionalidades. Pessoas que, como a belga Lisanne Lannoo, caíram de amores pelo ritmo inconfundível do Brasil. "Descobri o samba este ano, comecei a tocar num bloco e o Presuntinho era o mestre. Vi que ele fazia essas aulas e pensei: 'vou!'. É a minha segunda turma, toquei pandeiro na primeira e agora a conga", diz, em português, e sem esconder a emoção.
"A primeira vez que tocamos uma música mesmo, eu chorei um poquinho. É uma descoberta pra mim, o samba 'faz muitas coisas' dentro de mim, então tocar isso foi muito maravilhoso", confessa a belga, enquanto mexe os braços pelo peito, reforçando, com gestos, as sensações que o samba traz.
Durante a aula, é possível observar a concentração de Lis, como é carinhosamente chamada pela turma, e o entusiasmo. Aliás, não só nela, mas em todos que participam. Os alunos se organizam em roda, afinal, é uma roda de samba, seguindo uma sequência de instrumentos. Presuntinho fica no centro, comandando com sinais e falas. No círculo também ficam os cantores Camila Rondon, esposa do músico, e Higor Sartori, que entra com o cavaquinho, ajudando a dar corpo às canções.
A ideia para a oficina nasceu ainda no Brasil, mas só quando Presuntinho e Camila passaram a viver em Lisboa, o projeto saiu do papel. "Observei que tinha uma cena de samba muito forte e muita gente querendo aprender a tocar. E tem blocos de carnaval, inclusive eu tenho um, mas não tinha nada especificamente para ensinar grandes grupos a tocar as primeiras percussões de roda de samba. E aí eu montei a primeira turma, com os alunos que fazem aula comigo de percussão, e foi um sucesso", explica o brasileiro.
O nome escolhido representa muito do clima de acolhimento que Presuntinho traz. "Patú Sambá porque é pra todo mundo, né? Não tem questão de idade, de nacionalidade, de sexo, de nada", explica. E, posso atestar. É impossível não cantar junto, não sambar, não batucar em algo. De repente, escuto Presuntinho, do centro, que grita. "Ei, Carol, quer tocar?!", e me sinaliza uma cadeira vazia na área dos pandeiros. Imediatamente, digo que sim, sento, e conto com a ajuda da Cris para entrar no ritmo. "Essa levada é a partido alto, é assim", diz a Cris, começando a me mostrar.
Para quem não tinha contato com um pandeiro há décadas (toquei, por incentivo da família, durante a adolescência), até que - acho - não me saio mal. Pelo contrário. Mesmo que esteja fora do ritmo, posso dizer que sou totalmente envolvida pela "boa onda" - como definiu meu colega Reinaldo Rodrigues - da oficina. Reinaldo, aliás, é o fotojornalista autor das imagens que ilustram esta reportagem e, assim como eu, reconhece o espírito acolhedor do ambiente.
"Aqui a gente celebra o tempo todo. Cada aula é uma alegria, cada aula é um encontro. São quase 100 alunos aprendendo instrumentos, se arriscando, se propondo a errar e a acertar, a se divertir, se emocionar. É isso!", relata a cearense Amanda Fontenele, resumindo numa frase tudo o que consigo ver e sentir neste local.
Cada turma da oficina passa por um ciclo três meses de aula. Ao final, é organizada uma "cerimônia de formatura", uma roda de samba aberta onde os alunos recebem um diploma, tocam e são acompanhados por convidados especiais. Até agora, já houve duas formaturas, a primeira com a participação da cantora Carla Visi e a segunda da sambista Karla da Silva - que lançou recentemente um novo álbum, conforme contamos aqui no DN Brasil.
"A gente faz a formatura dessa galera toda de hoje agora dia 11 de janeiro. Tem sido muito legal a repercussão, todo mundo gostando bastante, muita gente querendo aprender a tocar instrumento de percussão", diz Presuntinho, que, sem dúvidas, já tem uma aluna confirmada para a próxima edição.
caroline.ribeiro@dn.pt