Especialista em migrações relata dificuldades com visto CPLP: "é mais fácil ir aos EUA do que vir a Portugal"
Para PhD Inês Macamo Raimundo, o Governo português não "reforçou os meios". Pesquisadora foi uma das principais palestrantes da XXI Conferência Anual da Imiscoe (International Migration Research Network, na sigla inglesa) e precisou de visto de Moçambique para Lisboa.
Texto: Agência Lusa / DN Brasil
A pesquisadora moçambicana Inês Macamo Raimundo, especialista em migrações, comemorou a criação do visto CPLP para os cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, mas criticou os problemas burocráticos que ainda persistem pela falta de recursos nos consulados de Portugal.
"Quando eu fui pedir um visto para vir cá estava tudo tão cheio, o que é um sinal de que as pessoas estão mais à procura", mas "os serviços não reforçaram os meios", afirmou a pesquisadora à agência Lusa, durante a XXI Conferência Anual da Imiscoe (International Migration Research Network, na sigla inglesa), que decorreu em Lisboa e onde esteve como uma das principais palestrantes.
O ministro da Presidência, António Leitão Amaro afirmou que reforço de profissionais nos postos consulares de Portugal deve começar em setembro e que as contratações já estão sendo feitas.
"Como é que eu posso interagir com colegas professores portugueses, por exemplo, se, para vir a Portugal, passo por tantas dificuldades?" – questionou, considerando que a criação dos vistos de mobilidade dentro da CPLP foi uma "boa notícia" que "ainda precisa de ser concretizada", através do "reforço de meios" nos consulados que facilitem a livre circulação.
Para a especialista, "é mais fácil ir aos Estados Unidos da América do que vir a Portugal", o que "não faz qualquer sentido".
Inês Macamo Raimundo também se mostrou preocupada com o fato de o discurso anti-imigrante estar aumentando em todo o mundo, incluindo no continente africano. No encontro, a investigadora, que tem doutorado em migrações forçadas, lamentou que a investigação sobre o tema das migrações esteja concentrada em "metodologia e conceitos do norte global", o que afasta pesquisadores dos países menos desenvolvidos.
Inês Macamo Raimundo disse também que "são precisas verbas para investir nos países de origem das migrações e em metodologias adaptadas a essa realidade".
"A migração é um direito. Porque é que não posso ter o direito de construir a minha vida noutro país?" – questionou.
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