Empresário brasileiro aposta na construção de casas populares em Portugal
Recifense quer trazer a expertise que obteve com a construção de casas no programa Minha Casa, Minha Vida.
Texto: Amanda Lima
Conseguir comprar uma casa em Portugal não é algo tão fácil para muitas pessoas. Somente no último ano, o aumento no preço médio foi de 9.8%, de acordo com dados recentes da plataforma Idealista. Um brasileiro quer tornar mais democrático o acesso à tão sonhada casa própria em Portugal.
É o engenheiro civil, arquiteto e empresário Charles Ruas, que vive em Leiria com a família desde meados de 2022. Nascido em Recife, trabalhou durante mais de uma década na construção de casas pelo programa estatal Minha Casa, Minha Vida. Agora, quer trazer esse conhecimento para Portugal. "O Minha Casa, Minha Vida foi uma grande escola. Chegamos a produzir lá 170 casas por mês, casas populares", conta ao DN Brasil.
De acordo com Charles, o segredo para uma construção rápida e com qualidade está na padronização. "A gente desenvolveu uma série de técnicas de gestão, de processo, de otimização e padronização de processo de construção", detalha. Esse método já permitiu construir uma casa em oito dias úteis com cinco trabalhadores. Charles entregou, no total, 13 mil casas populares no estado de Pernambuco.
O plano do brasileiro é replicar esse modelo aqui. Esse trabalho já começou. O empresário investe em prédios devolutos - ou seja, desocupados e degradados - e faz a reforma completa. "Alguns olham e pensam que não tem solução, mas fica tudo novo e padronizado", destaca. O imigrante é criterioso na escolha. "São áreas tão bem localizadas com toda a infraestrutura urbana e ao mesmo tempo que Portugal tem tanta demanda por habitação tem tantos imóveis fechados. E aí a gente enxergou nisso uma oportunidade de mercado", argumenta.
Com uma concorrência baixa nesse tipo de imóvel, o brasileiro consegue comprar os prédios por um preço menor - o que se reflete no valor final para o cliente. "Estamos entregando imóveis T2 na faixa dos 130 mil euros, especialmente na região de Setúbal, na Moita, na Baixa da Banheira, por exemplo", cita Charles. De acordo com o empresário, os principais clientes são imigrantes - mas também jovens portugueses - que sonham com a casa própria.
Construção do zero
Além da reforma dos prédios, o recifense pretende começar a construir imóveis do zero, para também vendê-los por um preço mais competitivo. A ideia não era nova e foi impulsionada pelo anúncio do Governo de financiamento para habitação de jovens até os 35 anos.
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"Com o lançamento desse programa habitacional do governo português, começou a fazer sentido reproduzir esse processo produtivo e essa experiência que a gente desenvolveu lá para cá", ressalta o imigrante. O trabalho de prospecção de áreas para construção dos prédios já começou, com foco nas regiões metropolitanas de Lisboa e do Porto. O preço médio é calculado em 200 mil euros, que possa ser financiado a 100% no programa estatal.
O empresário avalia que Portugal "precisa muito" de habitação social. "Se a gente pegar a grande concentração de déficit habitacional está na massa da população que são pessoas que têm renda de até dois salários mínimos, o dilema de jovens que não conseguem sair da casa dos pais", explica. A proposta do imigrante é "poder contribuir para esse desafio e trazer essa expertise que a gente desenvolveu no Brasil e também muito alavancado pelo estímulo do programa habitacional de Portugal", argumenta.
O recifense diz não ter dúvidas de que há "muita demanda de mercado". A meta de Charles é entregar um imóvel pronto em dois meses - depois de vencidas as etapas burocráticas. Para 2025, o empresário quer conseguir construir 20 casas por mês em Portugal.
amanda.lima@dn.pt