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Altos aluguéis em Lisboa são motivo de dor de cabeça para estudantes brasileiros
Capital portuguesa enfrenta crise de especulação imobiliária nos últimos anos.

Altos aluguéis em Lisboa são motivo de dor de cabeça para estudantes brasileiros

A crise de especulação imobiliária na capital portuguesa afeta ainda mais os imigrantes que aqui chegam, especialmente os jovens universitários.

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por DN Brasil

Texto: Nuno Tibiriçá

Na Quinta da Ribafria, em Sintra, a atriz e produtora brasileira Giulia Dal Piaz, 26, atende a reportagem do DN Brasil a poucos quilômetros de sua casa temporária. Após duas experiências frustrantes com aluguéis em Portugal, tendo que sair de dois apartamentos pelo aumento dos preços, a paulistana teve que ir morar na casa dos sogros enquanto procura outra opção, muito provavelmente fora da capital: “Lisboa está impossível”, lamenta.

A frase parece “batida”, termo usado pelos portugueses para algo que já é muito falado, uma obviedade. Mas a crise de especulação imobiliária na capital portuguesa afeta ainda mais os imigrantes brasileiros que aqui chegam, especialmente os jovens e estudantes. Em Portugal há seis anos, Giulia, que chegou ao país para cursar Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), diz que a procura por casa é um dos maiores empecilhos para um brasileiro que aqui chega para estudar.

Para ela, são duas as opções que um jovem imigrante tem em Portugal: ou alugar um quarto, normalmente em uma casa com muitas pessoas, ou tentar alugar um apartamento com amigos, o que geralmente envolve outros problemas como mais cauções e, principalmente, mobiliar a casa.

“É difícil porque, no começo, não tem muito como escapar daquilo de dividir casa com várias pessoas, mas vira algo muito impessoal, é triste. À medida que você vai conhecendo pessoas, o ideal é tentar alugar uma casa com amigos, mas mesmo assim tem coisas complicadas”, relata a paulistana, que teve dificuldades em “montar” o seu último apartamento com uma amiga.

“Na última casa que eu estive tinha só esquentador. E para a gente que tá aqui sozinho é complicado mobiliar tudo, quem é daqui às vezes pode pedir para algum familiar um móvel ou outro, para nós é mais difícil. Então é um gasto extra relevante que quem pensa em mudar para cá também tem que ter em conta”, afirma Giulia, uma das produtoras do Festival Clarão, realizado na última semana em Sintra e onde recebeu a reportagem do DN Brasil.

Giulia Dal Piaz em Sintra. A estudante chegou a Portugal para estudar em 2018. Foto: Leonardo Negrão

Antes da mudança temporária para Sintra, Giulia vivia com uma amiga beneficente do programa Porta 65, um dos projetos de apoio para jovens para alugar casas em Portugal. Para quem acaba de chegar ao país para estudar, no entanto, esses programas não são uma opção no primeiro momento, sendo a candidatura condicionada à entrega de declarações como a de IRS, por exemplo.

“Demorei a poder ter condições para me candidatar no processo, eu acho que, para nós, brasileiros e, especialmente quando estudava, a maior dificuldade era poder romper essas barreiras da burocracia portuguesa. A questão do fiador português, por exemplo, é sempre um problema para gente, ainda mais para uma jovem que acaba de chegar”, argumenta Giulia, que após o graduação na FLUL, cursou mestrado na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

Ainda sobre a experiência com alugueis, ela revela que o episódio mais intenso pelo qual passou foi há cerca de dois anos, quando teve que ir à justiça após receber uma ordem de despejo.

“Dividia uma casa com dois amigos, também brasileiros. A senhoria vendeu a casa, mas assinou uma carta dizendo que poderíamos ficar ali mais um ano. Pouco tempo depois, apareceu um advogado na nossa casa pedindo a chave. Foi um estresse. Ficamos meses em tribunal até nos darem razão, mas nesse meio tempo foi complicadíssimo, as casas já tinham ficado mais caras, uma tensão horrível, enfim: estar preparado para esse tipo de coisa longe de casa não é fácil”, lamenta Giulia.

Xenofobia na procura

Gabriela, cearense que prefere não identificar o sobrenome e chegou a Lisboa para cursar mestrado, passou recentemente por outro problema muito comum para os brasileiros: a xenofobia. Após ter que sair da casa onde morava pelo aumento no preço, iniciou a procura e logo reparou que seu sotaque seria um empecilho.

“Nem é uma coisa com os estrangeiros, é com brasileiros mesmo”, diz a cearense que ao ter uma visita recusada sem motivos aparentes, viu o namorado, alemão, agendar uma marcação no mesmo apartamento.

Alexandre Petarli é outro jovem brasileiro que imigrou para Portugal para tentar a sorte. Embora não tenha vindo para alguma universidade, o carioca rapidamente se viu no meio de estudantes pela dificuldade de conseguir alugar um quarto ou casa. Quando iniciou a procura por alojamento, assim, como Gabriela, reparou que era impedido de fazer uma visita a um apartamento por causa do sotaque.

“Eu ligava e me falavam “já está arrendado”. Achava estranho, tendo em vista que muitas vezes eram anúncios que tinham sido colocados há poucos dias e também não me parece fazer muito sentido manter um anúncio na internet se não está mais disponível. Enfim, parecia uma desculpa”, afirma o carioca, que chegou a Portugal com 28 anos e pediu a um amigo português fazer um “teste”, assim como Gabriela com o namorado.

“Por desencargo, pedi para ele ligar para os mesmos lugares que tinha falado: conseguiu marcar três visitas. A partir dali eu senti que eu sempre precisaria de um terceiro para interceder, falar que era para um amigo, eles (proprietários) não dizem que não querem alugar diretamente, é uma coisa mais subjetiva”, assinala Alexandre, técnico de informação que atendeu à reportagem do DN Brasil no escritório da empresa em que trabalha, em Oeiras.

Alexandre Petarli trabalha com Tecnologia de Informação em um escritório em Oeiras; ele chegou a Portugal com 28 anos. Foto: Leonardo Negrão

Impedido de visitar a maior parte dos lugares que tentou, Alexandre se viu obrigado a seguir o caminho que muitos imigrantes são confrontados ao chegar por aqui: alugar um quarto em uma casa compartilhada. Foi morar em uma espécie de república na Venteira, freguesia na Amadora, onde compartilhava a casa com mais 20 pessoas.

“Era uma espécie de hostel, mas muito pior. Um banheiro para quatro quartos, cozinha comunitária para os 20, imagina só: um fogão para tudo isso de gente? Acontecia de roubarem comida também, enfim, eram condições muito precárias e era o que aparecia para a gente, porque esse tipo de casa os portugueses não querem”, relembra.

Se alugar uma casa é difícil, comprar não é diferente. Assim como Giulia, Gabriela teve que sair de seu último apartamento após o proprietário aumentar o aluguel. Vendo os preços em Lisboa subirem de forma descontrolada, a brasileira mudou o foco e começou a procurar uma casa para comprar: “Pagar um aluguel de €500 por um quarto é uma loucura, é basicamente trabalhar para ter onde dormir. Comprando, pelo menos daqui a 40 anos, a casa é minha. Se tiver como pagar uma entrada, de 10%, por exemplo, vale a pena”, afirma a cearense.

Procurando fora de Lisboa, Gabriela encontrou o apartamento ideal: perto da estação de comboios, remodelado, 50 metros quadrados, o que precisava e sonhava. A imobiliária aceitou a proposta de Gabriela, mas, ao chegar no banco, a jovem viu a ideia ruir: ou arranjava um fiador português, ou pagava metade do preço da casa, avaliada em 140 mil euros. “Agora nem sei mais, não tenho ninguém para isso, portanto é voltar a procurar algo para alugar”, lamenta Gabriela, vivendo com o namorado desde que ficou sem casa, no início do mês de agosto.

Apoio em comunidade

O ano letivo na maioria das universidades portuguesas começa nesta segunda-feira, seguramente com muitos “Estudantes Internacionais” brasileiros que iniciam uma nova etapa no país. Giulia, dos tempos da faculdade, lembra que muitas vezes utilizar o analógico ao invés do digital pode ser mais eficiente e justo quando se está à procura de casa.

“O primeiro quarto que encontrei foi num painel da Associação de Estudantes da minha faculdade. Tinham vários anúncios e sei que é algo comum nas universidades e que muitos brasileiros que chegam aqui talvez não saibam, procuram logo nos sites principais. Tenho a impressão que, geralmente, quem coloca esses anúncios ali, com número a mão, indicações simples, não coloca tanto a faca como alguns sites. Pode ser um caminho mais interessante para quem chega”, finaliza.

Já Alexandre, após passar quase um ano na república na Venteira, finalmente conseguiu um quarto que considera decente, na região da Alameda, em Lisboa. Perguntado sobre qual o caminho ideal para um jovem que esteja planejando a mudança para Portugal, ele afirma que formar redes de apoio no país é fundamental para um jovem imigrante.

“Graças a Deus nós somos muitos aqui em Portugal e é uma comunidade que acaba se ajudando muito no dia a dia, em grupos nas redes sociais, etc. Então o mais importante é conhecer pessoas, vira muito mais uma questão de indicação. Acho que se não fosse a rede de apoio dos imigrantes brasileiros, muita gente já teria voltado: é muito difícil você conquistar o seu espaço em Portugal, seja no trabalho, seja para conseguir um lugar para morar”, conclui Alexandre.

nuno.tibirica@dn.pt

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