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2025, um bom ano para brasileiros escolherem Portugal? Conheça os desafios
Talvez não seja a hora de desembarcar de vez no país, alerta especialista. Foto: Leonardo Negrão

2025, um bom ano para brasileiros escolherem Portugal? Conheça os desafios

Patrícia Lemos avalia que não é o momento de fazer as malas e mudar pra cá, no caso dos que querem vir trabalhar.

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por DN Brasil

Texto: Amanda Lima

Há pelo menos oito anos que Portugal vê um aumento a cada ano de brasileiros que escolhem o país para viver, com mais de 400 mil pessoas, mais de 1/3 do total imigrantes que vivem no país. Em 2025, não há sinais de que esta tendência mude, até porque, em data ainda não definida, os brasileiros passarão a ter entrada facilitada no país pelo acordo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Porém, o Portugal de 2017, quando esta nova vaga de brasileiros começou a vir para cá, não é o mesmo de agora, em diferentes aspectos. Não só a lei mudou, com o fim das manifestações de interesse, mas também o cenário econômico e social do país. O DN Brasil ouviu pessoas que estão lidando diretamente com essa expectativa de vinda e de chegada ao país, para entender quais os principais desafios que quem vai chegar no próximo ano vai se deparar.

Patrícia Lemos é uma das profissionais mais procuradas por brasileiros de todos os perfis que querem mudar-se para Portugal. Já atendeu mais de 7 mil famílias nesta jornada. Ao DN Brasil, avalia que o ano de 2025 será para Portugal “arrumar a casa”, depois de mudanças na lei e a criação da Agência para Integração, Migrações e Asilo (AIMA), que completou um ano recentemente com um acúmulo de pendências.

A especialista avalia que, para o brasileiro que pensa em mudar para Portugal com a família e trabalhar, precisa ter cautela. “Com o visto de procura de trabalho, por exemplo, tem quatro meses para arranjar um trabalho, para conseguir se legalizar e trazer a esposa. O dinheiro dele é contado para isso dar certo. Para esse imigrante, eu recomendo que aguarde as regras estarem todas claras na mesa e todo o processo de legalização regularizado por parte do governo”, orienta. E porquê? Segundo Patrícia, o maior problema a ser enfrentado é a burocracia. “O empresário não vai contratar porque não tem o NISS e um horário na AIMA, não vai conseguir trazer a família porque não tem vagas de reagrupamento. O Governo não está fazendo a parte dele nesse momento”, analisa.

Patrícia já orientou mais de 7 mil famílias no processo de mudança para Portugal. Foto: Arquivo pessoal

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Ela argumenta que, para este perfil de imigrante, o melhor é “avaliar, continuar o planejamento, se estruturar cada vez mais”. E qual será a hora certa? Na visão da especialista, será quando “o Governo começar a cumprir os prazos” na área de documentação dos imigrantes. Neste momento, nem as renovações de quem já está em Portugal há anos estão sendo cumpridas. A brasileira ainda lembra que a alta do euro, em quase 7x1 frente ao Real, torna a mudança ainda mais cara.

Crise na habitação e desqualificação profissional

Para Ana Paula Costa, presidente da Casa do Brasil, a habitação é um dos maiores desafios. “Não há casas para as pessoas. As pessoas não conseguem pagar, essa questão do alojamento superlotado, as pessoas não conseguem viver sozinhas em uma casa, o salário não faz jus ao preço da habitação. Então, a questão da habitação gravíssima vai se manter enquanto não tivermos aqui uma resposta que consiga superar essa questão”, avalia. É certo que o problema afeta todos os moradores, no entanto, a particularidade do imigrante é a falta de rede de apoio, a necessidade de pagar cauções a mais na maioria das vezes em comparação com os portugueses e mesmo a recusa dos donos dos imóveis em alugar para imigrantes.

Assim como Patrícia, a presidente da associação também vê como grave a falta de respostas na área da documentação dos imigrantes. “Nós temos percebido que a AIMA tem tido um serviço muito distante, é para além das pessoas não conseguirem o agendamento ou renovar o documento, isso é gravíssimo, mas também as pessoas não conseguem entrar em contato para tirar uma dúvida, para poder esclarecer alguma situação”, explica.

Ainda na área de documentação, a imigrante aponta a dificuldade em obter o Número de Inscrição na Segurança Social (NISS) depois das mudanças do Governo. Na sexta-feira, o Ministério do Trabalho confirmou a necessidade de um contrato de trabalho para conseguir o NISS. A medida prejudica os imigrantes que chegam com visto, porque muitos patrões se recusam a contratar estrangeiros sem estarem inscritos na Segurança Social.

A dirigente da Casa do Brasil também vê com preocupação a dificuldade em brasileiros de atuarem na área profissional que estudaram. “Neste momento tem sido bastante evidente. Acontece que muitas pessoas brasileiras que vêm para Portugal tem um alto nível de qualificação profissional, imensa experiência de trabalho no Brasil quando chega em Portugal não consegue se inserir no mercado de trabalho na sua área de qualificação ou um trabalho que está de acordo com as suas competências”, relata. Para Ana Paula, a situação “é vista todos os dias” e significa “uma desvalorização do conhecimento, uma desvalorização do grau mesmo acadêmico e da experiência profissional”.

Ana Paula Costa é presidente da Casa do Brasil e pesquisadora na área de imigração. Foto: Leonardo Negrão

Xenofobia

A presidente - que é também pesquisadora acadêmica na área de imigração - ainda vê com preocupação a xenofobia contra comunidades imigrantes no país e aumento do falso discurso que relaciona imigração e criminalidade. “As pessoas têm sofrido inclusive violência física nas ruas, então nós pensamos que isso vai continuar, até porque nós temos visto o fortalecimento de um partido de direita radical, que tem mobilizado esses discursos de ódio e o crescimento de movimentos organizados mesmo de extrema-direita, movimentos fascistas. Infelizmente, o cenário nesse ano de 2025 para as questões do racismo e da xenofobia, infelizmente, não são nada positivas”, analisa.

Em 2024, Portugal teve pelo menos cinco manifestações de rua tendo como alvo os imigrantes, três delas promovidas pelo grupo neonazista 1143 (em Lisboa, Porto e Guimarães) e duas realizadas pelo partido Chega (Lisboa e Porto), apoiada por movimentos como o próprio 1143 e a Reconquista, este último abertamente contra a presença de brasileiros no país. Segundo o último barómetro da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FMMS), divulgado há poucos dias, 51% dos portugueses querem que a imigração de brasileiros “diminua” ou “diminua muito”. O índice de rejeição está acima de cidadãos da África, de acordo com a mesma pesquisa.

Ainda segundo Ana Paula, o aumento da fiscalização de imigrantes afeta todas comunidades imigrantes, inclusive a brasileira. “A criminalização da imigração, esse pensamento de que os imigrantes são um perigo, acaba afetando todas as comunidades, inclusive a brasileira, então eu acho que uma das dificuldades também é o policiamento da PSP, a fiscalização, essas operações vexatórias e humilhantes, infelizmente, penso que isso também pode ser um dos grandes desafios para o ano que vem”, reflete.

O DN Brasil sabe que a xenofobia sofrida por brasileiros em Portugal deverá ser abordado na cimeira entre Brasil e Portugal em fevereiro. No entanto, fontes diplomáticas admitem ao jornal que a falta de estatísticas oficiais dificulta o diálogo com Portugal sobre o assunto. A reunião será em Brasília no dia 19 de fevereiro.

amanda.lima@dn.pt


Esta reportagem está na edição impressa do Diário de Notícias de hoje (30).

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