2.172 estrangeiros foram recusados de entrar em Portugal neste ano. O que isso nos diz?
"A melhor maneira de evitar a recusa de entrada no território não é com "dicas" e falas sedutoras dos influencers, e sim com planejamento e consciência".
Texto: Priscila Corrêa
Minhas palavras vão soar estranhas, principalmente se as pessoas olham-me apenas na profissão de advogada de imigração, área na qual sou mais conhecida em Portugal. É justamente em função dessa rotina de acompanhar imigrantes há quase uma década que posso dizer que, para muitos, melhor mesmo que a entrada não lhes seja autorizada.
Isso porque a vida em um país estranho acarreta muitas adversidades e há que se estar preparado para essa realidade. Coisa que a maior parte das pessoas verdadeiramente não está. Na maioria dos casos de recusa, aqueles que, porventura, não sejam objeto de falsificação de documento, decorre de pessoas completamente despreparadas para mudar de bairro, quiçá de país!
Imigrantes iludidos com as facilidades apresentadas na internet por "influencers" acabam por ser atraídos para um Portugal que não existe, uma fantasia alimentada pela ingenuidade e, em alguns casos, desleixo com o que significa imigrar. O mais severo nesse quadro é quando a entrada é liberada e os ditos "turistas" se aglomeram em Portugal com filhos menores, sendo que sequer dispõem de receita para garantir o próprio sustento, que dirá dos filhos.
Fiquem todos a saber: toda autorização de residência tem um mínimo de receita, que atualmente é de 820 euros mensais para uma pessoa, que a partir de janeiro passa a ser 870 euros. A cada membro da família que se agrega, será necessário completar o valor, primeiro em mais metade, depois acrescentar 30% por indivíduo.
Em outras palavras, uma família de quatro pessoas a partir do próximo ano precisa de quase 1.900 euros para que todos tenham direito a residir no país. Essa onda de irresponsabilidade precisa ser combatida. Esses números precisam de ser conhecidos por quem deseja se aventurar no país.
A despeito das críticas que são dirigidas ao Governo, cuja coluna tem sido recorrente em apontar as falhas inegáveis, há que se reconhecer que o maior controle nas fronteiras desestimula a imigração inconsequente. Esse modelo de imigração deve sim ser combatido.
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Reflitam comigo: por pior que a realidade em seu país possa parecer, estar distante da sua família, em outra cultura, em pé de desigualdade com os demais cidadãos e ainda sem recursos financeiros compatíveis com essa nova realidade, é uma luta diária. Do contrário, o preparo correto para essa mudança de vida, torna o processo bem sucedido e promissor para a nova vida que se pretende construir. A melhor maneira de evitar a recusa de entrada no território não é com "dicas" e falas sedutoras dos influencers, e sim com planejamento e consciência.
Muito embora esse discurso seja repetido com veemência por mim e demais advogados de imigração que levam a sério a profissão, nossa fala é abafada pelas facilidades que muitos vídeos oferecem, quando apresentam uma vida ilusória cujo cenário principal é a falsa vida de sonhos. Competir com a vida de conto de fadas não é fácil...
Portanto, pensem bem antes de comprar uma passagem e fazer as malas. Se uma dia as portas estiverem "escancaradas" como muitos dizem, hoje em toda a Europa as portas se encontram cada vez mais fechadas a quem não tenha a chave certa.
Dra Priscila Corrêa, Advogada Especialista em Direito Internacional Privado